sexta-feira, 1 de julho de 2011

Panfleto racista é distribuído no Sudoeste


Sudoeste limpo?


Sérgio Maggio 

 

Desde o fim de semana passado, o Conselho de Moradores do Sudoeste, uma das regiões de maior renda per capita de Brasília, saiu às ruas com uma campanha para diminuir a presença de moradores de ruas na região. De panfletos em mão, alguns moradores peregrinaram pelas comerciais defendendo, sobretudo, a ideia de “não dar mais esmolas para aumentar a qualidade de vida desses moradores de rua”. A campanha traz esse slogan, mas não explica como essa comunidade pretende “ajudar” de fato esses brasileiros que estão abaixo da linha da pobreza, alguns viciados em crack, outros não; alguns propensos a marginalidade, outros não. 
No panfleto da campanha do Sudoeste, o raciocínio de não dar esmola segue com a importância de “aumentar a nossa segurança” e traz ainda uma imagem de uma mão negra espalmada, maltratada e tremida. O que remete de imediato ao fato de essa pessoa estar drogada e da associação do negro à marginalidade e à pobreza. Esse imaginário do senso comum, por mais que tenha associações em estatísticas, já que historicamente o negro foi condenado das senzalas para o terreno baldio, reforça preconceitos, sobretudo, porque há brancos e pardos perambulando pelas comercias do Sudoeste e do DF em subempregos e a pedir esmolas. É bom lembrar que muitos estão ali, sem nenhuma qualificação profissional, por motivos diversos e desconhecidos. Há evidentes casos de loucura. Não há como julgá-los pela aparência maltrapilha. 
É ainda delicada essa campanha do Conselho de Moradores do Sudoeste porque não há nenhum cunho de protesto político. Não há remissão de críticas aos governos local e federal sobre a falta de política pública sobre o crack, um problema nacional que aflige o país de ponta a ponta. Fui abordado por um casal que fazia a campanha no sábado e em nenhum momento alguma proposta política se sobressaiu a não ser a necessidade urgente de fazer com que os moradores de rua desaparecessem daquela rica região. A mulher disse que a polícia tem ajudado e tirado algumas “dessas pessoas”. Faxina social? Quero crer que não, até porque essa campanha pode evoluir como uma forma de pressão para que o governo local se posicione e estenda a ideia do Sudoeste para o DF inteiro. Afinal, o Sudoeste não é um condomínio de luxo fechado, onde não se pode ter o direito constitucional de ir e vir, mesmo para aqueles que perderam o direito de existir como cidadão. 

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