terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Pesquisa feita com 200 presos no Complexo da Papuda mostra que 70% dos internos tornaram-se leitores assíduos depois de entrar na prisão.

Ressocialização » Na companhia dos bons livros  
No presídio feminino, o índice chega a 40%. Os resultados são de uma dissertação de mestrado em letras na UnB
Publicação: 26/02/2013 correioweb



Detentos participam de apresentação do projeto Portas Abertas: desenvolvido pela Universidade de Brasília, o programa tem participação da professora Maria Luzineide Costa Ribeiro  (Fotos: Iano Andrade/CB/D.A Press) 
Detentos participam de apresentação do projeto Portas Abertas: desenvolvido pela Universidade de Brasília, o programa tem participação da professora Maria Luzineide Costa Ribeiro

O último livro que Luiz Carlos*, 30 anos, leu foi Quando Nietzche chorou, romance de Irvin D. Yalom sobre o filósofo alemão do século 19. “Nietzche sabia aproveitar suas depressões, em vez de fazer delas um inferno. Por isso, gostei bastante”, comenta.

Luiz é um leitor comum. Talvez incomum seja o local onde ele aproveita a leitura. Atualmente, o rapaz cumpre o nono dos 12 anos e 10 meses de pena por homicídio e assalto, detido em regime fechado na Penitenciária do Distrito Federal I (PDF I), no Complexo da Papuda. Antes, costumava ler apenas o que era cobrado no ensino médio, mas, na prisão, os livros se tornaram um prazer, uma forma de preencher o ócio e uma via de escape. Não é raro isso acontecer. A conclusão é de uma pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB): Luiz não foi o único a mudar os hábitos de leitura depois de ir para a cadeia.

No ano passado, a então mestranda em letras pela UnB Maria Luzineide Costa Ribeiro aplicou questionários entre 200 internos da PDF I e da Penitenciária Feminina do Distrito Federal (Comeia) e mapeou os hábitos de leitura dentro das celas. O estudo constatou que, depois de serem presos, o interesse pelos livros por parte dos detentos da PDF I aumentou em 52%. “É considerado leitor assíduo quem lê entre dois e três títulos por mês. No presídio, em torno de 70% dos internos se encaixam nessa categoria”, garante Luzineide. Na Comeia, o índice alcança os 40%.

O que motiva a procura pelas obras varia. Joesley*, 30 anos, foi sentenciado a cinco anos e 11 meses de prisão por tráfico. Hoje, dedica o tempo a ler a Bíblia, mas também gosta de romances policiais e livros espíritas. “Eu leio para ocupar o tempo livre, mas também por prazer e para estudar”, resume.

O questionário mostrou que outros presos têm opiniões parecidas. Na PDF I, 54% associaram a leitura à busca de conhecimento formal, com objetivo de ampliar a visão de mundo e facilitar a convivência com pessoas. “Muitos vincularam o hábito com a possibilidade de sucesso profissional e de escrever melhor. Uma boa parte do grupo mostrou acreditar, também, que ler os torna informados e, consequentemente, menos agressivos”, esclarece a pesquisadora.

Condenado por tráfico, Joesley*, 30 anos, gosta de ler a Bíblia, romance policial e livros sobre  espiritismo 
Condenado por tráfico, Joesley*, 30 anos, gosta de ler a Bíblia, romance policial e livros sobre espiritismo

Outros 38% afirmaram que a atividade representa um prazer na rotina. “Para eles, é uma maneira de acalmar e diminuir a tensão do ambiente”, acrescenta Luzineide, ex-professora do sistema prisional. Na Comeia, os resultados apresentaram algumas diferenças. “Mais da metade das mulheres procura conhecimento na leitura. Cerca de 20%, no entanto, se apoiam nos livros para combater a depressão, principalmente causada pela saudade dos filhos e da família”, descreve a pesquisadora.

Remissão de pena
Os detentos Luiz Carlos e Joesley foram pré-selecionados, neste mês, para participar do primeiro ciclo do projeto Portas Abertas, desenvolvido pela Universidade de Brasília (UnB), a princípio, na PDF I, a fim de observar detentos que visam à remissão de pena por meio da leitura. O programa segue a orientação da Portaria n° 276 do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), aprovada em junho do ano passado, e determina que o preso pode diminuir até 48 dias de pena se ler um livro mensalmente e apresentar uma resenha sobre cada obra no fim do mês.

O projeto terá professores e alunos da UnB para elaborar uma lista de obras literárias recomendadas para internos a partir do 9º ano que queiram ganhar o benefício. A equipe se encarregará da correção das resenhas entregues pelos detentos, que precisam obter  média de 7.

Para o diretor da PDF I, Celso Wagner Lima, a remissão pode ser um incentivo. “Só podem participar do projeto aqueles que tenham bom comportamento, então, o programa já influencia nisso”, argumenta. “E é mais uma oportunidade trazida pela leitura, que também ajuda a melhorar o raciocínio e a escrita dos presos”, acrescenta Lima.

Luiz Carlos* cumpre pena por homicídio e assalto: leitura diminui o ócio 
Luiz Carlos* cumpre pena por homicídio e assalto: leitura diminui o ócio
No entanto, há quem se oponha à diminuição de pena por meio da leitura, como o promotor de Justiça do Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT) Newton Cezar Valcarenghi Teixeira. “Acho importantíssimo que os detentos tenham acesso à educação e aos livros, porque é importante para a ressocialização. Mas dar a possibilidade de remir pena graças à leitura, sendo que há outras formas, passa a imagem de que não existe efetividade no cumprimento das penas”, argumenta.

Bibliotecas
A PDF I possui duas bibliotecas, batizadas em homenagem aos escritores Graciliano Ramos e Monteiro Lobato. Ao todo, são oito mil títulos variados, desde clássicos da literatura brasileira e estrangeiras até livros de estudo de português e direito — excluindo obras com conteúdo pornográfico ou que incitem o crime.

A maior parte do acervo é produto de doações. Detentos que tenham bom comportamento ganham o direito de pegar um livro emprestado. Alguns internos, porém, reclamam de condições estruturais. “Gosto muito de ler, mas fica difícil, porque minha cela é muito lotada de gente. Com tanto barulho, é difícil se concentrar”, queixa-se Joesley. Para Luiz Carlos, a disponibilidade de títulos no acervo poderia melhorar. “Alguns livros são muito ultrapassados, principalmente os de estudo”, opina.

O  levantamento registrou que, entre os detentos na PDF I que se disseram não leitores, 60% argumentaram não ter o hábito por ausência de orientação e 40% por falta de condições psicológicas.

Segundo a pesquisa, as preferências de leitura entre os detentos mudam, inclusive, de acordo com o histórico criminal. “Internos cumprindo pena por assalto preferem livros de aventura; os condenados por tráfico ou homicídio são adeptos a obras de tom religioso, e os culpados por crimes sexuais têm preferências por autoajuda amorosa”, define Luzineide.

* Sem sobrenome para preservar a identidade dos detentos


"Internos cumprindo pena por assalto preferem livros de aventura; os condenados por tráfico ou homicídio são adeptos a obras de tom religioso, e os culpados por crimes sexuais têm preferências por autoajuda amorosa”

Maria Luzineide Costa Ribeiro, 30 anos, pesquisadora


Os preferidos

Veja os títulos mais populares em cada bloco das penitenciárias:
  • Comeia (feminino): Aprendendo a conviver com quem se ama, de Neale Donald Walsch
  • Bloco D (homicídio e tráfico): Ágape, de padre Marcelo Rossi
  • Bloco E (penas curtas): obras de Sidney Sheldon
  • Bloco F (crimes sexuais): Um estranho no espelho, de Sidney Sheldon
  • Bloco G (crimes contra o patrimônio): Divina revelação do inferno, de Mary Baxter
Depoimento

“Aprender a viver”
“Enquanto o mundo livre acelera-se na livre concorrência e nas regras comerciais do momento, o homem preso deita-se no nojento colchão, abre um empoeirado livro e lê. Em segundos, ele estará lutando em alguma cruzada do passado ou estará entendendo com Sócrates o mundo das ideias ou ainda estará resolvendo um problema matemático de geometria. Quando o sistema o libertar, ele se arrependerá das horas que passou sem a companhia do livro. Que ele tenha a sorte de conquistar um tempo de sua vida para continuar a crescer, aprender a viver, amar e dar mais um salto.”

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Ler é Bom, Experimente!, do Grupo Projetos de Leitura para escolas de todo o Brasil

Ler é Bom, Experimente!

A partir desta segunda-feira, 25 de fevereiro, professores de todo o país poderão realizar as inscrições de escolas públicas para participarem do programa Ler é Bom, Experimente no site www.projetosdeleitura.com.br. A ação é realizada pelo grupo Projetos de Leitura com o apoio do Ministério da Cultura, através da Lei de Incentivo à Cultura( Lei Rouanet).  A expectativa é que a iniciativa beneficie cerca de 45 mil alunos de 400 escolas.

O trabalho consiste na doação de livros a estudantes do 2º ano do Ensino Fundamental até o Ensino Médio e o desenvolvimento de atividades a partir da leitura. As escolas inscritas receberão de 38 a 114 livros de autoria do escritor e coordenador do grupo, Laé de Souza, além de material de apoio como folhas pautadas para redação, questionários e uma cartilha pedagógica para auxiliar o professor a executar as atividades dentro da sala de aula.

Para o coordenador do grupo nada desenvolve mais a capacidade verbal e de interpretação que a leitura de livros. Ele disse que os estudanets ficam enriquecidos com as novas ideias e com o novo vocabulário. "Os livros proporcionam um aprendizado leve, agradável e de forma natural", assegurou Laé.

As atividades nas escolas serão monitoradas pelos professores com auxílio de um manual e apoio da equipe do Grupo Projetos de Leitura. Após a execução das atividades sugeridas pelo projeto, como adaptação dos textos para teatro, encenação e discussão dos temas, os alunos respondem a um questionário sobre os livros e desenvolvem textos baseados nas crônicas ou nas personagens.

Outra grande oportunidade do projeto é a possibilidade dos alunos - a partir do 6º ano-, concorrem a publicação de seus textos no livro As melhores crônicas dos projetos de leitura – Volume 5 , que será lançado até novembro de 2013.

Sobre o Grupo Projetos de Leitura 

O Grupo Projetos de Leitura iniciou seu trabalho em 1998 e tem seus projetos aprovados pelo Ministério da Cultura(MinC), além de contar com patrocinadores, parceiros e com o envolvimento dos professores. O projeto tem sede em São Paulo e atuação em todo o território nacional, desenvolvendo projetos sem fins lucrativos, com o objetivo de vencer um dos maiores desafios encontrados pelos professores e amantes da literatura: desenvolver o hábito da leitura.

Sobre o autor

Laé de Souza é cronista, dramaturgo, produtor cultural, bacharel em Direito e Administração de Empresas, autor de vários projetos de incentivo à leitura e de livros infantis, juvenis e adultos, entre eles: "Acontece", "Acredite se Quiser!", a série"Quinho e o seu Cãozinho", "Nos Bastidores do Cotidiano" , "Espiando o Mundo pela Fechadura", "Coisas de Homem & Coisas de Mulher".

(Texto: Marcos Agostinho, Ascom/MinnC)
(Fotos: Divulgação/Projetos de Leitura)

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Mala do Livro chegará também a Unaí MG

Terça, 19 Fevereiro 2013

Prefeito Delvito Alves Unaí (MG) recebe Arquicelso Bites, secretário do Entorno do DF

  
Prefeito Delvito Alves Unaí (MG) recebe Arquicelso Bites, secretário do Entorno do DF
Mirella Piva
No domingo, 17 de fevereiro, o prefeito Delvito Alves recebeu, no gabinete, Arquicelso Bites, Secretário de Estado do Entorno do Distrito Federal. Estiveram presentes o vice-prefeito Hermes Martins Souto, secretários e assessores municipais, além dos vereadores Luciana Alves (Presidente da Câmara Municipal de Unaí), Edimilton Andrade (Vice-presidente da Câmara Municipal de Unaí), Netinho (1º Secretário da Câmara Municipal de Unaí), Paulo Arara (2º Secretário da Câmara Municipal de Unaí), Dorinha Melgaço, Ilton Campos, Shilma Nunes e Paulo do SAAE.
O objetivo da reunião foi apresentar não apenas os representantes de ambos os governos, mas, sobretudo, estabelecer futuras parcerias em prol do desenvolvimento dos municípios componentes do Entorno do Distrito Federal, especialmente Unaí, cidade pólo do Noroeste de Minas. Segundo Delvito, é relevante o estabelecimento de tal articulação política, pois o município de Unaí compõe a Região Integrada do Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (RIDE/DF). “A visita de Arquicelso Bites é importante, pois iremos tratar de assuntos importantes para a comunidade: segurança pública, saúde, transportes e a possível implantação de uma agência do Banco de Brasília (BRB) em Unaí”, afirma.
Na reunião, Delvito explanou sobre os setores que devem ser priorizados: na saúde, propôs a criação de convênio público com o governo do Distrito Federal para que Unaí, que atende às demandas emergenciais de cerca de 12 municípios integrantes da região Noroeste de Minas, possa expandir tal atendimento setorial; na segurança pública, também propôs a substituição da fiscalização móvel para fixa, situada na BR-251, rodovia que liga Unaí a Brasília; além da implantação de uma agência do BRB na cidade para estimular a economia local.
Arquicelso Bites, secretário de Estado do Entorno do Distrito Federal, explicou sobre o objetivo da visita ao Executivo de Unaí. “O intuito do governo do Distrito Federal é ser parceiro. Essa é a primeira visita que fazemos à equipe do prefeito Delvito Alves. Quero deixar claro: estamos aqui para construir parcerias que possam efetivamente trazer soluções de médio e longo prazo para os grandes problemas da nossa região. Queremos construir as alternativas conjuntamente. A nós não interessa coloração partidária. Queremos conhecer as demandas atuais do Executivo de Unaí”, explica.
Saiba mais
A Região Integrada do Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (RIDE/DF), criada pela Lei Complementar nº 94, de 19 de fevereiro de 1998 e regulamentada pelo Decreto nº 2.710, de 04 de agosto de 1998, alterado pelo Decreto nº 3.445, de 04 de maio de 2000.
O objetivo da RIDE é viabilizar as ações administrativas da União, do Distrito Federal, dos municípios dos Estados de Minas Gerais e de Goiás, por meio da promoção de projetos que contribuam para o desenvolvimento econômico em escala regional. A Ride é composta pelo Distrito Federal (DF), os municípios goianos de Abadiânia, Água Fria de Goiás, Águas Lindas de Goiás, Alexânia, Cabeceiras, Cidade Ocidental, Cocalzinho de Goiás, Corumbá de Goiás, Cristalina, Formosa, Luziânia, Mimoso de Goiás, Novo Gama, Padre Bernardo, Pirenópolis, Planaltina, Santo Antônio do Descoberto, Valparaíso de Goiás e Vila Boa; e os municípios mineiros de Buritis, Cabeceira Grande e Unaí.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013


Encontro Nordestino de Cordel vai cobrar mais benefícios para artistasBenefícios, como direito à previdência, serão reivindicados para artistas ligados ao gênero

Publicação: 13/02/2013 :
Xilogravura de J. Borges, o mais famoso gravador nacional em atividade (Carlos Silva/CB/D.A Press)
Xilogravura de J. Borges, o mais famoso gravador nacional em atividade
A literatura de cordel passeia por terras brasileiras desde o início da colonização. Lá se vão séculos. Nem por isso, os artistas ligados ao gênero gozavam de qualquer prestígio. Principalmente, àqueles relacionados aos direitos trabalhistas. A vocação era exercida informalmente. A partir de 2010, graças ao I Encontro Nacional Nordestino de Cordel em Brasília (2009), o empurrão final foi dado e a Lei 12.198/2010 entrou em vigor, depois de pastar 25 anos no Congresso.

Segundo o texto, repentistas, emboladores de coco, contadores de causos populares e cordelistas devem ser reconhecidos como profissionais artísticos e, então, usufruir dos direitos destinados à classe. Avanço tardio, porém imprescindível. Apesar da regulamentação, vários entraves ainda pautam o setor. Destarte, fundamental a realização do segundo encontro — que acontece a partir de hoje (e segue até sexta), no Teatro da Caixa — e a manutenção da discussão.