segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Escondida no Norte de Goiás, cidade construída pelos escravos encanta pelo estilo de vida

 

Escondida no Norte de Goiás, cidade construída pelos escravos encanta pelo estilo de vida

Tranquilidade, harmonia entre os moradores e arquitetura colonial faz qualquer um voltar ao século 18

Pedro Hara - 
Igreja Nossa Senhora das Mercês. (Foto: Reprodução/YouTube)

Localizada a pouco mais de 240 km de Goiânia, Pilar de Goiás, no Norte do estado, é uma cidade pouco conhecida dos goianos, mas que é carrega uma história bastante rica.

O município nasceu em 1736 e foi construído por escravos foragidos, que encontraram uma grande fonte de ouro, que lhes garantiu a liberdade

Pilar de Goiás é uma cidade que encanta pelo estilo de vida. A tranquilidade, harmonia entre os moradores e arquitetura colonial faz qualquer um voltar ao século 18.

Alguns dos hábitos mantidos pelos habitantes são encher baldes de água com a água que sai do chafariz da praça central e receber garrafas de leite na porta de casa.

Pacata, a cidade é um prato cheio para os turistas que gostam de conhecer destinos históricos. Desde 1954, Pilar de Goiás tem o conjunto arquitetônico e paisagístico tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Três prédios se destacam na cidade e são parada obrigatória para os visitantes: a Casa da Princesa e as igrejas de(matriz) e Nossa Senhora das Mercês.

Igreja de Nossa Senhora do Pilar. (Foto: Reprodução/YouTube)

A igreja matriz abriga um campanário onde estão os três maiores sinos já feitos em Goiás para um templo, fabricados em 1785, com cerca de 900 kg cada.

Sinos da Igreja Matriz. (Foto: Reprodução/YouTube)

A Casa da Princesa foi morada da Princesa Isabel por cerca de um ano, quando Pilar era a principal cidade do estado no ciclo de produção de ouro. É considerada a principal obra barroca não religiosa do século 18 em Goiás.


segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Estudante do DF vence prêmio que incentiva futuras cientistas Abordando biodiversidade, negritude, política e protagonismo juvenil, Gabriely Santos Souza, conhecida como K7, venceu o Prêmio Carolina Bori "Ciência e Mulher", da SBPC


 (crédito: Arquivo Pessoal)(crédito: Arquivo Pessoal)

Um misto de surpresa e felicidade. Foi assim que a estudante Gabriely Santos Souza,  18 anos, conhecida como K7, recebeu a notícia do 4° Prêmio Carolina Bori Ciência & Mulher, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). A premiação homenageia as cientistas do país e incentiva novas mulheres à trajetória científica. Abordando biodiversidade, negritude, política e protagonismo juvenil, K7 venceu na categoria "Ensino Médio".

A estudante foi contemplada ao entrelaçar educação, ciência e arte. "É um espaço muito grande de reconhecimento", pontuou acerca da premiação. O projeto premiado de K7 envolve duas peças teatrais, escritas na companhia de teatro do Centro de Ensino Médio Elefante Branco: Ato de resistência - primeira peça da estudante, escrita em parceria com o diretor Marcello D' Lucas, em 2021 - e Mundo da lua.

"Ato de resistência engloba política, a época da escravidão, a dança e o Slam (poesia falada). É um projeto bem forte, a gente teve uma devolutiva muito boa dos alunos. E Mundo da lua é uma peça infantil que fala sobre ciência, tendo como protagonista o senhor Paulo, que é um físico negro, e ele vai de encontro com algumas crianças em prol da biodiversidade e da humanidade em si, trazendo a valorização dos profissionais da saúde no combate à Covid-19 no ápice da pandemia", conta a estudante.

  • Peça 'Ato de resistência'Arquivo Pessoal
  • Elenco de 'Mundo da lua'Arquivo Pessoal

K7, que foi aprovada no vestibular da UnB para o curso de artes cênicas, relata a importância da representatividade desde a infância. "Ver o brilho nos olhos das crianças ao verem as profissões sendo espelhadas na peça e, principalmente, ver nos olhos das crianças pretas vendo o protagonista preto, em uma peça que fala sobre ciência e ficar com aquele pensamento 'cara, um dia eu posso chegar lá', porque falamos pouco sobre ciência às crianças, e menos ainda com protagonistas negros", explica a jovem.

Arte e educação

Para a estudante, arte e educação estão entrelaçadas e ocupam um lugar de expressão e conhecimento de mundo. "É entender quem veio antes de você e quem vai vir depois e, principalmente, ter um local de reconhecimento na escola, de expressão e criar para si mesmo, porque a arte necessita do conhecimento e do autoconhecimento. Tem muita educação passada em forma de arte e arte engloba muito o mundo da educação", diz.

K7 escolheu cursar licenciatura e sonha com o dia em que possa entrar em sala de aula e observar os alunos dispostos a aprender, impulsionados pela arte. "O aprender artístico é sensacional, é um lugar em que muita gente se reconhece, mas não permanece por conta de muitos tabus presentes na sociedade, e eu espero fazer parte de um movimento que mude essa visão. A arte é fundamental no ambiente escolar, até porque ela já é produzida em massa nesse espaço", ressalta a estudante. Para ela, prêmios como o da SBPC servem para ajudar a estimular e reconhecer os desejos e os talentos de alunos em todo o país.

"Disponível para criar"

Segundo Marcelo D' Lucas, diretor de teatro do Elefante Branco, um dos principais desafios nas aulas de teatro é despertar o interesse na escrita aos adolescentes. Entetanto, K7 sempre foi uma aluna que se destacou nessa área, mesmo não tendo experiência com a escrita de peças teatrais no início. "Ela é muito disponível para criar e bastante curiosa", define o diretor.

Marcelo D' Lucas sempre incentivou K7 e foi ele quem a inscreveu na premiação. "Sempre fizemos o esquema de sentar e fazer as provocações juntos, questionar sobre algumas temáticas e criar um universo dramático para aquilo poder ser uma peça e, a partir desse esqueleto, ela distribuir isso em cenas e escrever os diálogos. Pela primeira vez, em tantos anos, tivemos uma aluna que escrevia a peça e a gente montar e colocar como um projeto da escola ou projeto extracurricular.", lembra o diretor de teatro. "O prêmio é uma forma de abrir espaço para eles estarem ocupando os lugares que devem ocupar, e a K7 sendo uma menina preta e periférica, isso ganha uma importância maior ainda".

Sobre o projeto

O Prêmio Carolina Bori Ciência & Mulher foi criado em 2019 e leva o nome da primeira presidente mulher da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Carolina Martuscelli Bori. "A SBPC – que já teve três mulheres presidentes e hoje a maioria da diretoria é feminina – criou essa premiação por acreditar que homenagear as cientistas brasileiras e incentivar as meninas a se interessarem por este universo é uma ação marcante de sua trajetória histórica, na qual tantas mulheres foram protagonistas do trabalho e de anos de lutas e sucesso da maior sociedade científica do País e da América do Sul", diz a instituição.

'Nasci de seis meses por causa de uma violência doméstica', revela o modelo Pablo Morais

'Nasci de seis meses por causa de uma violência doméstica', revela o modelo Pablo Morais

O modelo e ator Pablo Morais na série ‘Sports’ do fotógrafo Mario Testino
O modelo e ator Pablo Morais na série ‘Sports’ do fotógrafo Mario Testino Mario Testino

A inquietude e a intensidade de Pablo Morais, de 29 anos, parecem atravessar a tela do computador em uma hora de entrevista feita por videochamada. Modelo, ator, cantor de rap e artista plástico — não necessariamente nessa ordem —, Pablo está em campanhas de grifes brasileiras e internacionais, como Reserva, Movado e Costa Brazil, é um dos protagonistas de um ensaio da série “Black towel”, assinada pelo badalado fotógrafo Mario Testino, que movimentou as redes sociais no início de janeiro, e integra o elenco do filme “Poliana”, que será lançado este semestre.

A imagem sexy e glamurosa dos personagens da TV e do cinema, porém, não o define. Goiano de alma carioca e radicado em Nova York, ele quer falar. “Vim da periferia de Goiânia. Tive uma infância difícil. Nasci prematuro de seis meses e duas semanas por causa de uma violência doméstica. Meu pai deu um chute no baço da minha mãe”, dispara. “Naquela época, na década de 1990, era muito difícil uma mulher sair desse ciclo de violência”, lamenta. “Foi muita sorte eu ter sobrevivido, uma verdadeira luta.”

O ator e modelo Pablo Morais na série "Sports" de Mario Testino — Foto: Mario Testino

O ator e modelo Pablo Morais na série "Sports" de Mario Testino — Foto: Mario Testino

alvez isso explique sua fome de viver. Com a mãe já separada do pai, o ator, que tem três irmãos mais velhos, cresceu em um ambiente extremamente violento e começou a trabalhar aos 8 anos. “Tinha que ajudar em casa.” Foi servente de pedreiro, vendedor de R$ 1,99, funcionário de lava-jato, empurrou carrinho em feira. Mas os perigos da realidade que o cercava entravam pelas frestas, apesar do esforço hercúleo da mãe. Para afastá-lo do crime, ela acatou o conselho de uma psicóloga do Caps (Centro de Atenção Psicossocial) e colocou o adolescente numa aula de tecido acrobático. “Lá eu conheci uma menina que falou que eu poderia ser modelo. Resolvi tentar. Na sequência, essa mesma psicóloga convenceu minha mãe a me emancipar aos 16 anos e deixar que eu morasse no Rio, no apartamento de modelos da agência 40 Graus.” Pablo foi e nunca mais voltou.

O ator e modelo Pablo Morais na série "Sports" de Mario Testino — Foto: Mario Testino

O ator e modelo Pablo Morais na série "Sports" de Mario Testino — Foto: Mario Testino

Logo depois, passou a dividir um apartamento no Vidigal, fazer aulas de teatro no Nós do Morro e modelar. Nessa época, conheceu o cineasta Candé Salles, que abriu a sua mente, e o apresentou a amigos e artistas, como a cantora Marina Lima, a quem Pablo considera “uma irmã”. “Conheci a Marina bem novinho, ela me ajuda, dá dicas. Hoje em dia a gente faz shows juntos. Marina é minha família”, declara. A cantora retribui: “Tenho alguns poucos amigos, e com esses sei que posso contar até debaixo d’água. Pablo é um deles. Somos muito próximos; solitários, quietos, leais, quase carentes. O que nos salva no dia a dia é justamente essa certeza”, diz a cantora. O documentário “Uma garota chamada Marina”, dirigido por Candé Salles, é dedicado aos grunkies, palavra inventada por Pablo na adolescência (“não sabia falar grunge”, diz) e que significa “amigos alternativos, loucos e inteligentíssimos.” Candé faz coro: “É o homem mais lindo e autêntico que conheci. Seu talento vem de dentro.”

O ator e modelo Pablo Morais — Foto: Mario Testino

O ator e modelo Pablo Morais — Foto: Mario Testino

Com 15 anos de carreira como modelo, nove como ator — com oito novelas no currículo —, e música em parceria com Seu Jorge, Pablo procura exercer a gratidão todos os dias. “O maior orgulho que tenho é da minha superação. Todo o mundo me olha como se eu fosse privilegiado. Mas agora bati o martelo, quero contar a minha história, estou ficando cult, mas sou muito povão”, comenta o modelo, que escolheu Nova York para viver por tempo indeterminado. “É a minha cidade, só perde para o Rio, mas quero me abrir para o mundo, miro em uma carreira internacional.”

Cauã Reymond e Pablo Morais em ensaio da série "Black towel" de Mario Testino — Foto: Mario Testino

Cauã Reymond e Pablo Morais em ensaio da série "Black towel" de Mario Testino — Foto: Mario Testino

Enquanto elabora as vivências, ele não para. “Acabei de aparecer em uma campanha de relógio em todas as TVs da Times Square”, comemora. Também filma “Poliana” e vai grava um EP. O fotógrafo Mario Testino destaca a energia contagiante: “Ter pessoas para fotografar, que, além de serem amigas, têm outros talentos é um presente da vida. Elas fazem a foto. Nós capturamos a energia. Pablo é assim.”

Ex-namorado da cantora Anitta e da atriz Agatha Moreira, e amigo de ambas, Pablo está solteiro no momento. “Estou totalmente focado no meu trabalho, com um monte de coisas para fazer, namorar envolve responsabilidade afetiva”, explica, concluindo: “A arte me salvou”.

Por Marcia Disitzer

domingo, 22 de janeiro de 2023

Número de brasileiros com autorização para ter arma aumenta 7 vezes durante mandato do Maligno

 Em quatro anos, desgoverno no Brasil abriu um clube de tiro por dia

Entre 2019 e 2022, Exército concedeu certificados para 1.483 novos estabelecimentos de tiro esportivo. Os dados foram obtidos pelo g1 via Lei de Acesso à Informação.

Atirador pratica o tiro esportivo em clube de tiro no Ceará — Foto: Kid Júnior

Atirador pratica o tiro esportivo em clube de tiro no Ceará — Foto: Kid Júnior

O desgoverno de (PL) autorizou a abertura de um clube de tiro por dia em seu mandato. Dados do Exército obtidos pelo g1 via Lei de Acesso à Informação apontam para 1.483 registros concedidos de 2019 a 2022.

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Esta é a primeira vez que são divulgados dados ligados a clubes de tiro, CACs (grupo formado por caçadores, atiradores e colecionadores) em todo o desgoverno.

Houve crescimento constante sob o maligno; veja abaixo:

  • 2019: 235
  • 2020: 299
  • 2021: 474
  • 2022: 475

A legislação deixa a cargo do Exército analisar e aprovar a abertura de clubes de tiros, bem como autorizar que uma pessoa possa virar CAC ou que um caçador, atirador ou colecionador adquira uma nova arma dentro da lei.

Houve crescimento de quase três vezes na quantidade de autorizações concedidas no último ano de Bolsonaro em relação ao governo anterior.

Em 2022, o Exército liberou a abertura de 475 clubes, 287% mais em comparação aos 165 de licenças concedidas em 2018, último ano de Michel Temer (MDB) como presidente.

Aumento de armas e pessoas com armas

Bolsonaro tinha entre suas principais pautas o armamento da população. O ex-presidente editou decretos que facilitaram o acesso a armas, inclusive as de grosso calibre e uso restrito, como fuzis, com critérios menos rígidos para posse e aquisição, bem como maior limite de munições disponíveis por ano para CACs.

Dados divulgados em primeira mão pelo g1 na quinta-feira (19) mostram que o governo Bolsonaro liberou 904 mil novas armas para caçadores, atiradores e colecionadores de 2019 até 2022.

Os registros concedidos aos CACs ao longo do governo Bolsonaro representam a liberação de 619 novas armas por dia no país nos últimos quatro anos.

Entenda o que é o registro CAC
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Entenda o que é o registro CAC

A quantidade de pessoas com autorização para possuírem armas aumentou sete vezes nos quatro anos de governo Bolsonaro: de 117.467 (em 2018) para 813.188 (em 2022).

O número de autorizações em 2022, último ano do governo Bolsonaro, representa 46% de todas as autorizações sob a gestão do ex-presidente: 318.360 autorizações.

Em quatro anos, o governo Bolsonaro autorizou 695.721 pessoas a ter armas, número que representa 872 novos cadastros por dia.

As novas regras impostas por Bolsonaro permitiam que colecionadores tivessem cinco armas; caçadores podiam ter 15; atiradores, 30.

Os decretos de Bolsonaro foram parcialmente suspensos pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em setembro de 2022. No dia 2 de janeiro, o presidente Lula (PT) revogou as normas sobre armas e definiu novas regras, dentre as quais a suspensão de novas concessões para CACs registrarem novas armas.

Também estipulou que novos CACs podem ter três armas --o limite vale para colecionadores, caçadores e atiradores.


Por Arthur Stabile, g1


Homem segura uma arma em um clube de tiro — Foto: Daniel Ramalho/AFP/Arquivo

Homem segura uma arma em um clube de tiro — Foto: Daniel Ramalho/AFP/Arquivo

A quantidade de brasileiros com autorização para ter arma de fogo aumentou sete vezes durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). Ao longo do mandato do ex-presidente, a quantidade de CACs (grupo formado por caçadores, atiradores e colecionadores) subiu de 117.467, em 2018, para 813.188, em 2022, conforme dados obtidos pelo g1 via Lei de Acesso à Informação junto ao Exército.

Esta é a primeira vez que é divulgado o total de novos CACs durante o mandato de Bolsonaro – desde a posse, em 1º de janeiro de 2019, até dezembro de 2022. Em quatro anos, o governo Bolsonaro autorizou 695.721 pessoas a ter armas, número que representa 872 novos cadastros por dia.


Dados do Anuário de Segurança Pública, com base em estatísticas do Exército Brasileiro, indicam que 117.467 pessoas tinham licença para ter armas em todo o país até 2018, último ano do governo de Michel Temer (MDB). Com os registros liberados pelo governo Bolsonaro, o total de CACs aumentou 592% e fechou o ano passado em 813.188.


Leia também:


Houve crescimento paulatino de novos CACs sob Bolsonaro; veja a seguir:

  • 2019: 73.788
  • 2020: 104.933
  • 2021: 198.640
  • 2022: 318.360

Pela legislação, cabe ao Exército analisar e aprovar os registros de quem pretende virar um CAC. O mapeamento é feito desde 2004 através do sistema Sigma (Sistema de Gerenciamento Militar de Armas).

O número de autorizações em 2022, último ano do governo Bolsonaro, representa 46% de todas as autorizações sob a gestão do ex-presidente: 318.360 autorizações. Até a metade do ano, 158.565 pessoas obtiveram novos registros para comprar armas, de acordo com o Anuário de Segurança Pública. Dados do Exército obtidos pelo g1 indicam que outras 159.795 pessoas receberam aval no segundo semestre.

O último ano do governo Bolsonaro também aumentou em seis vezes a quantidade de registros concedidos para CACs (grupo formado por caçadores, atiradores e colecionadores) por ano. Em comparação com o fim do governo Temer, 47.361 registros foram aprovados durante 2018, contra 318.360 de Bolsonaro em apenas 12 meses.

Mais armas nas ruas


Bolsonaro tinha entre suas principais pautas o armamento da população. O ex-presidente editou decretos que facilitaram o acesso a armas, inclusive as de grosso calibre e uso restrito, como fuzis, com critérios menos rígidos para posse e aquisição, bem como maior limite de munições disponíveis por ano para CACs.

Dados divulgados em primeira mão pelo g1 na quinta-feira (19) mostram que o governo Bolsonaro liberou 904 mil novas armas para caçadores, atiradores e colecionadores de 2019 até 2022.

Entenda o que é o registro CAC
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Entenda o que é o registro CAC

Os registros concedidos aos CACs ao longo do governo Bolsonaro representam a liberação de 619 novas armas por dia no país nos últimos quatro anos.

Foram ao todo 904.858 registros para aquisição de novas armas, aumento constante desde 2019, quando ocorreram 78.335 liberações. Em 2020, foram 137.851, e em 2021, o número passou para 257.541 e, em 2022, o recorde de 431.131 - que representa 47% do total sob Bolsonaro.

O presidente permitia que colecionadores tivessem cinco armas; caçadores podiam ter 15; atiradores, 30.

Os decretos de Bolsonaro foram parcialmente suspensos pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em setembro de 2022. No dia 2 de janeiro, o presidente Lula (PT) revogou as normas sobre armas e definiu novas regras, dentre as quais a suspensão de novas concessões para CACs registrarem novas armas.

Também estipulou que novos CACs podem ter três armas --o limite vale para colecionadores, caçadores e atiradores.

Legalização das armas sem mudar a lei

Rafael Alcadipani, professor da Faculdade Getúlio Vargas (FGV) e integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, afirma que o governo de Jair Bolsonaro "legalizou as armas" no país sem mudar a lei do desarmamento, da década de 2000.

"Jair Bolsonaro, em sua gestão, fez uma espécie de legalização das armas por meio de CACs, é isso que aconteceu. O ex-presidente não quis mexer mais fortemente na legislação e liberou CACs o máximo que ele podia e as pessoas começaram a ter mais liberalidade de acesso às armas", diz.

Em seu mandato, Bolsonaro assinou uma série de decretos que facilitou o acesso às armas de fogo por parte de CACs. Em 2 de janeiro, o governo Lula suspendeu os decretos e paralisou a concessão de novos registros e novas armas para a categoria.

O especialista destaca os saltos expressivos ano a ano, com os registros quase dobrando de 2021 para 2022, o que classifica como uma realidade "bastante temerária". Alcadipani afirma que mais registros de CACs levam ao aumento de acidentes com armas de fogo, à quantidade de armamentos legais que caem nas mãos do crime organizado e também possibilita o aumento de suicídios.

"Essa situação de arma de fogo é bastante complexa, perigosa com relação à realidade brasileira. A gente espera que o governo federal tome medida mais enérgicas e não tão tímidas como tem tomado agora, para que a gente tenha um equilíbrio no controle de armas no Brasil", afirma o professor.