sábado, 25 de março de 2023

Guia Fora do Plano: roteiro de cidades que nem o brasiliense conhece direito

 


Conceição Freitas

 
Neste sábado, 25/03, os amigos vão se reencontrar na Banca 308 Sul para o lançamento do Guia Fora do Plano, das 15h às 19h.
Guia Fora do Plano: roteiro de cidades que nem o brasiliense conhece direito.
O Plano Piloto é uma ilha cercada de cidades-satélites por todos os lados. Cada uma delas tem a própria história, o próprio jeito de viver. As regiões administrativas (RAs) são quase estranhas umas às outras — e todas elas são ainda mais estranhas ao Plano Piloto.
Quem é de Brasília, ou, dizendo de outro modo, quem é do Distrito Federal, pertence a dois lugares: à capital tão reverenciada, tão poderosa, e às RAs onde moram mais de mais de 90% da população brasiliense.
Este guia deixou o Plano Piloto de lado e foi atrás das 32 RAs que não estão na maquete inventada pelo arquiteto Lucio Costa. Projeto FAC, o Guia Fora do Plano apresenta, em forma de crônica, cada uma das 32 satélites, suas festas, feiras, vida cultural, lugares legais. E traz dados estatísticos, demográficos e históricos de cada RA. É ilustrado com fotos de Zuleika de Souza, que há décadas registra as cidades do DF.

segunda-feira, 20 de março de 2023

Número de novas armas liberadas para civis despenca sob o governo Lula

 

Número de novas armas liberadas para civis despenca sob o governo Lula

No ano passado, durante o desgoverno que passou, a corporação emitiu 8.608 autorizações. Neste ano, sob Lula, esse número caiu drasticamente para 1.791

www.brasil247.com -
(Foto: ABr)

247 - O número de registros de armas de fogo expedidos pela Polícia Federal (PF) para cidadãos comuns caiu 79% em fevereiro de 2023, em comparação com o mesmo período de 2022. No ano passado,  a corporação emitiu 8.608 autorizações. Neste ano, sob Lula, esse número caiu drasticamente para 1.791.


Em janeiro, a quantidade de novos registros de armas já havia caído, com 2.503 no governo atual em comparação com 8.797 no mesmo período em 2022. Essa redução é resultado dos esforços da administração Lula para reverter a política armamentista adotada por Bolsonaro, que levou o número de armas nas mãos dos civis a aumentar de 1,3 milhão para 2,9 milhões. 

O ministério da Justiça e Segurança Pública, liderado por Flávio Dino, criou um GT para propor alterações nas normas, com o objetivo de retomar o espírito do Estatuto do Desarmamento, sancionado em 2003, no primeiro governo Lula. 

O presidente Lula também emitiu um decreto que suspendeu a emissão de novos registros para caçadores, atiradores e colecionadores (CACs), além de clubes de tiro, e uma portaria que determinou o recadastramento de armas registradas no Exército no sistema da PF. 

QUASE 15 METROS Pescoço de dinossauro pode ser o mais longo já observado em qualquer animal - Júlia d'Oliveira/NYT

QUASE 15 METROS Pescoço de dinossauro pode ser o mais longo já observado em qualquer animal - Júlia d'Oliveira/NYT


  • QUASE 15 METROS

    Pescoço de dinossauro pode ser o mais longo já observado em qualquer animal - Júlia d'Oliveira/NYT

domingo, 19 de março de 2023

Criador do ChatGPT adverte sobre os perigos da IA

 

Criador do ChatGPT adverte sobre os perigos da IA

Os humanos eventualmente precisarão “desacelerar essa tecnologia”, alertou Sam Altman

www.brasil247.com - Sam Altman, CEO da OpenAI
Sam Altman, CEO da OpenAI (Foto: Reprodução/Twitter)

RT - A inteligência artificial tem o potencial de substituir trabalhadores, espalhar “desinformação” e permitir ataques cibernéticos, alertou Sam Altman, CEO da OpenAI. A versão mais recente do programa GPT da OpenAI pode superar a maioria dos humanos em testes simulados.

 “Temos que ter cuidado aqui”, disse Altman à ABC News na quinta-feira, dois dias depois que sua empresa revelou seu mais recente modelo de linguagem, apelidado de GPT-4. De acordo com a OpenAI, o modelo “exibe desempenho de nível humano em vários benchmarks profissionais e acadêmicos” e é capaz de passar em um exame de barra simulado dos EUA com uma pontuação máxima de 10%, enquanto se apresenta no 93º percentil em um exame de leitura SAT e em o percentil 89 em um teste de matemática SAT.

 “Estou particularmente preocupado que esses modelos possam ser usados ​​para desinformação em larga escala”, disse Altman. “Agora que eles estão melhorando na escrita de códigos de computador, [eles] podem ser usados ​​para ataques cibernéticos ofensivos.”

 “Acho que as pessoas deveriam ficar felizes por termos um pouco de medo disso”, acrescentou Altman, antes de explicar que sua empresa está trabalhando para colocar “limites de segurança” em sua criação.

 Esses “limites de segurança” recentemente se tornaram aparentes para os usuários do ChatGPT, um popular programa de chatbot baseado no predecessor do GPT-4, o GPT-3.5. Quando solicitado, o ChatGPT oferece respostas tipicamente liberais a questões envolvendo política, economia, raça ou gênero. Recusa -se , por exemplo, a fazer poesia admirando Donald Trump, mas de bom grado escreve prosa admirando Joe Biden.

 Altman disse à ABC que sua empresa está em “contato regular” com funcionários do governo, mas não detalhou se esses funcionários desempenharam algum papel na formação das preferências políticas do ChatGPT. Ele disse à rede americana que a OpenAI tem uma equipe de formuladores de políticas que decidem “o que achamos que é seguro e bom” para compartilhar com os usuários.

 No momento, o GPT-4 está disponível para um número limitado de usuários em caráter experimental. Os primeiros relatórios sugerem que o modelo é significativamente mais poderoso que seu antecessor e potencialmente mais perigoso. Em um tópico no Twitter na sexta-feira, o professor da Universidade de Stanford, Michal Kosinski, descreveu como perguntou ao GPT-4 como ele poderia ajudá-lo a “escapar”, apenas para a IA entregar a ele um conjunto detalhado de instruções que supostamente daria controle sobre computador dele.

 Kosinski não é o único fã de tecnologia alarmado com o crescente poder da IA. O CEO da Tesla e do Twitter, Elon Musk, descreveu-a como “tecnologia perigosa” no início deste mês, acrescentando que “precisamos de algum tipo de autoridade reguladora supervisionando o desenvolvimento da IA ​​e garantindo que ela esteja operando de acordo com o interesse público”. 

 Embora Altman tenha insistido para a ABC que o GPT-4 ainda está “muito sob controle humano”, ele admitiu que seu modelo “eliminará muitos empregos atuais” e disse que os humanos “precisarão descobrir maneiras de desacelerar essa tecnologia. ao longo do tempo."

segunda-feira, 13 de março de 2023

ChatGPT ajudará aluno e não substituirá professor, diz docente de Harvard

  

ChatGPT ajudará aluno e não substituirá professor, 

diz docente de Harvard

Seiji Isotani, professor do Instituto de Computação e de Ciências Matemáticas da Universidade de São Paulo (ICMC-USP)  e professor visitante da Faculdade de Educação da Universidade Harvard, nos Estados Unidos - Divulgação/Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria
Seiji Isotani, professor do Instituto de Computação e de Ciências Matemáticas da Universidade de São Paulo (ICMC-USP) e professor visitante da Faculdade de Educação da Universidade Harvard, nos Estados Unidos
Imagem: Divulgação/Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria




Da Agência FAPESP

13/03/2023 11h53


Desde que surgiu, no final de 2022, o ChatGPT tem gerado preocupação entre os educadores. Isso porque a ferramenta de inteligência artificial capaz de dialogar, escrever textos em diferentes estilos, fazer cálculos e responder perguntas de modo natural pode ser usada indevidamente por estudantes para elaborar redações e realizar lições e trabalhos escolares, por exemplo, burlando o processo de aprendizagem.

Porém, em vez de ser usado meramente como um oráculo ou vidente, o robô virtual (chatbot) pode ser empregado de outras maneiras mais inteligentes e se tornar um aliado no ensino, avalia Seiji Isotani, professor do Instituto de Computação e de Ciências Matemáticas da Universidade de São Paulo (ICMC-USP), campus de São Carlos, e professor visitante da Faculdade de Educação da Universidade Harvard, nos Estados Unidos.

"O ChatGPT tem sido usado como um espécie de vidente, para dar respostas a perguntas. Essa aplicação é questionável no processo de ensino e aprendizagem porque destrói algo fundamental para a criatividade humana que é a tomada de decisões corretas e de forma consciente. Contudo, essa ferramenta de inteligência artificial pode ser utilizada como uma geradora de insights, ou seja, de novos caminhos para a resolução de um problema", disse Isotani durante palestra em um evento on-line promovido pelo ICMC-USP em fevereiro.

Em vez de pedir ao ChatGPT para resolver e dar a resposta final para um problema de matemática que não está conseguindo entender, por exemplo, um estudante de ensino médio pode solicitar ao agente conversacional que explique o passo a passo para solucioná-lo, o que é fundamental no processo de ensino-aprendizagem, apontou Isotani.

"O ChatGPT pode ser usado como um oráculo para tentar ajudar e fornecer o que chamamos de scaffold, ou seja, o suporte para que o aluno consiga aprender e avançar", explicou o pesquisador, que tem realizado, com apoio da FAPESP, pesquisas voltadas ao desenvolvimento e aplicação de técnicas de computação para apoiar e transformar as atividades de ensino e aprendizagem.

Se mesmo com a ajuda de professores e tutores um aluno não está conseguindo entender e resolver uma equação matemática, por exemplo, a ferramenta pode ser aplicada para ajudá-lo por meio de exemplos trabalhadosSeiji Isotani, do ICMC-USP e da Universidade Harvard

Outra possibilidade de aplicação do ChatGPT na educação é como agregador de conhecimento, indicou o pesquisador. O agente conversacional pode permitir fazer conexões e ajudar os estudantes a processar a imensa quantidade de informações disponíveis hoje, ajudando a construir significados.

"Podemos pensar o ChatGPT como um learning companion, ou seja, um companheiro de aprendizagem ou um tutor do estudante que vai ajudá-lo a processar as informações e trocar ideias com ele. Dessa forma, ele passa atuar não mais como um oráculo ou vidente, mas como um parceiro para a construção de conhecimento", afirmou.

Esses agentes pedagógicos, que são pequenos avatares que interagem com os estudantes, têm sido alvo de estudos na área de sistemas inteligentes há mais de três décadas. Com o surgimento do ChatGPT será possível elevá-los a um novo patamar, estimou Isotani.

O ChatGPT pode pegar a transcrição da fala de uma criança com dificuldade de aprendizagem e processá-la para um agente pedagógico. Dessa forma, essa ferramenta pode começar a interagir de forma mais eficiente, com o intuito de resolver problemas de crianças com discalculia (dificuldade com atividades relacionadas à matemática) ou alguma deficiência, por exemplo, que precisam de ajuda no processo de aprendizagem e muitas vezes não dispõem de suporte em sala de aula ou em casa, defendeu o pesquisador.

"Uma criança com uma deficiência cognitiva grave precisa de ajuda a todo o momento quando está tentando aprender alguma coisa. E não há recursos humanos suficientes para ajudar todos esses alunos no tempo que eles precisam. O ChatGPT pode atuar como um remediador nesse processo", disse Isotani.

O pesquisador pondera que isso não significa que o ChatGPT substituirá o professor e que os alunos serão dependentes da ferramenta o tempo todo, mas que poderão recorrer ao agente conversacional sempre que precisarem de alguém para ajudá-lo.

Precisamos entender quais são os desafios, os problemas e as potencialidades do ChatGPT para usá-lo adequadamente no contexto da educação para começarmos a criar serviços, processar dados e trabalhar com inteligência artificial para apoiar pais, professores, alunos e gestores educacionais para conseguirmos viver bem na sociedade do conhecimento"

Modelo generativo

Lançado em novembro de 2022 pela startup OpenIA, o ChatGPT é uma tecnologia de modelagem de língua baseada em algoritmos de redes neurais artificiais profundas - modelos que tentam simular o comportamento do cérebro humano, com unidades de processamento interconectadas em várias camadas, da mesma forma que os neurônios se conectam por sinapses para aprendermos algo.

O aprendizado por essas redes neurais foi facilitado e impulsionado nos últimos anos com o surgimento de uma técnica de processamento de linguagem natural chamada word embeddings, que permite representar numericamente as palavras, explica à Agência FAPESP Thiago Alexandre Salgueiro Pardo, professor do ICMC-USP e um dos pesquisadores principais do Centro de Inteligência Artificial (C4AI).

O C4AI é um Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) constituído pela FAPESP e a IBM na Universidade de São Paulo (USP).

As redes neurais gostam de trabalhar com números. Se dermos uma palavra simbólica, escrita por extenso, elas não sabem muito bem o que fazer com isso. Mas se a palavra for transformada em número elas conseguem processar isso muito bem. E ao transformar palavras em números é possível realizar operações matemáticas sobre elasThiago Alexandre Salgueiro Pardo, do ICMC-USP e do C4AI

"Isso causou uma revolução. Todos os sistemas de processamento de linguagem natural melhoraram por causa da representação numérica de texto", complementa o pesquisador.

Outra revolução recente no campo do processamento de linguagem natural foi o desenvolvimento de um novo tipo de rede neural artificial, os chamados grandes modelos de linguagem (LLM).

Treinados em conjuntos de dados muito grandes, da ordem de bilhões de textos, esses modelos são capazes de deduzir a palavra que falta para completar uma determinada sentença.

Um dos grandes modelos de linguagem que revolucionaram a área foi o Bert, lançado em 2018 pelo Google, baseado na representação numérica de um texto para prever as próximas palavras que estão faltando com base no trecho anterior. Já no final de 2020, a OpenIA lançou o GPT-3, que gera texto a partir de representações numéricas, dando origem aos chamados modelos generativos.

"Como um modelo generativo, o ChatGPT, que é, de fato, um sistema muito inovador, pode gerar informações corretas ou erradas, porque não tem um filtro", pondera Fábio Cozman, professor da Escola Politécnica da USP e diretor do C4AI.

Além de produzir informações incorretas e desatualizadas, uma vez que a base de dados usada para treiná-lo vai até 2021, o ChatGPT também pode produzir e contribuir para difundir conteúdos danosos e inapropriados, estimular o plágio e outras infrações éticas, aponta Fernando Santos Osório, professor do ICMC-USP e membro do comitê gestor do C4AI.

"O ChatGPT é uma ótima ferramenta do ponto de vista linguístico, mas peca muito em relação a sistemas de representação de conhecimento e apresenta alguns problemas muito sérios que têm de ser discutidos", avalia Osório.

"O Google também pode fornecer informações incorretas, perigosas e desatualizadas, mas aponta quais as fontes, a reputação delas e permite que o usuário possa avaliá-las e fazer fact-checking. O ChatGPT não", compara.

Processamento de linguagem natural em português

A fim de possibilitar o treinamento de modelos de linguagem semelhantes ao GPT-3 e elevar o nível de desempenho no processamento computacional de linguagem natural em português do Brasil, os pesquisadores vinculados ao C4AI desenvolveram e disponibilizaram nos últimos dois anos grandes conjuntos de dados.

Os datasets contêm textos de fontes diversas, minuciosamente anotados por estudantes de linguística, bem como gravações da língua portuguesa de diversas regiões do Brasil.

Um dos conjuntos de dados, batizado de CORAA, contém mais de 260 horas de gravações de falas transcritas em língua portuguesa, de diversas regiões do Brasil, provenientes de quatro conjuntos de dados preexistentes - agora auditados pelos alunos da universidade. A multidiversidade do conteúdo disponibilizado pelo CORAA oferece, por exemplo, maior diversidade regional na criação de futuros aplicativos de conversação, respeitando sotaques, culturas e costumes locais. O objetivo é chegar a 600 horas de gravação na próxima versão.

Um segundo conjunto de dados, nomeado Carolina, contém informações sobre mais de 600 milhões de palavras e termos em português, anotados por tipologia e origem, oferecendo um amplo leque de detalhes sobre a etimologia para o treinamento de grandes modelos de processamento de linguagem natural.

"Esses conjuntos de dados em português são públicos e estão disponíveis para qualquer interessado, como universidades, empresas e startups", disse Claudio Pinhanez, gerente de pesquisa em Inteligência Conversacional da IBM Research Brasil e vice-diretor do C4AI, em um evento realizado em fevereiro no Inovabra, em São Paulo.

"Ninguém vai investir em processamento de linguagem natural em português se não for o Brasil. Temos de ter o mesmo tipo de infraestrutura em inteligência artificial existente em países como os Estados Unidos e a China para podermos fazer processamento de fala, jurídico e de notícias em português, entre outras diversas aplicações", afirmou.

Os pesquisadores do Centro iniciaram em 2022 um projeto voltado a empregar técnicas ultramodernas de inteligência artificial para auxiliar no processamento de línguas indígenas.

"Estamos estabelecendo agora parcerias com algumas comunidades indígenas em São Paulo, principalmente da etnia guarani, que é a língua indígena mais falada na região. Mas pretendemos futuramente expandir para outras etnias da Amazônia", disse Pinhanez.

sexta-feira, 10 de março de 2023

Se IAs conseguem até desenhar e escrever, qual é o futuro dos artistas?

 INOVAÇÃO

Se IAs conseguem até desenhar e escrever, qual é o futuro dos artistas?

Expansão de Inteligências Artificiais "artísticas" levaram a protestos como o de Veronika Kozlova, que ataca erro comum em ilustrações geradas por IA - ReproduçãoExpansão de Inteligências Artificiais 'artísticas' levaram a protestos como o de Veronika Kozlova, que ataca erro comum em ilustrações geradas por IA
Imagem: R

 Gabriel Daros

De Tilt, em São Paulo

10/01/2023 04h00


Designers, ilustradores, escritores, videomakers e outros profissionais da área criativa temem que sistemas de inteligência artificial (IA) eliminem suas vagas de trabalho num futuro breve. O medo cresce à medida que algoritmos cada vez mais inteligentes conseguem realizar diferentes atividades:

Já vi muitos comentários dizendo que isso [IA] veio para agregar para a vida do artista. Não penso assim. Pode ser que isso venha a substituir nosso trabalho. Às vezes, a gente já cobra um preço acessível e a pessoa vai lá e prefere pagar um aplicativo.Graça Stein, ilustradora brasileira realista, de Afonso Cláudio (ES)
O que está rolando

Em dezembro, artistas inundaram o site de portfólio virtual ArtStation com uma imagem que, em inglês, dizia "não às imagens geradas por IA" em protesto. A crítica veio após os administradores da plataforma aceitarem trabalhos feitos por inteligência artificial.

Protestos de artistas tomaram a página inicial do site de portfólio ArtStation - Reprodução - Reprodução
Em alguns momentos, a home do ArtStation ficou tomada pelo protesto de artistas contra imagens feitas por IA
Imagem: Reprodução

Desenhistas também se revoltaram contra o resultado de um concurso de arte que premiou um trabalho parcialmente criado pela IA a partir de texto inserido no Midjourney. Outros ainda reclamaram do fato de que algoritmos são treinados usando artes de autores sem autorização prévia.

Isso inevitavelmente vai acabar forçando ilustradores a criar meios de cobrar mais barato e agilizar o processo. Só que o ilustrador não vende um trabalho, vende uma solução. É essa a percepção de valor que a gente precisa fazer, e infelizmente, a gente não aprendeu a valorizar isso na escola de desenho.Ivan Querino, professor e ilustrador, de São Paulo (SP)

Um levantamento do site Will Robots Take My Job, que faz previsões sobre a probabilidade de robôs pegarem diferentes tipos de empregos, mostra o nível de insegurança dos profissionais de áreas criativas e de produção de conteúdo.

  • 35% de 509 videomakers consultados temem perder o trabalho para robôs;
  • 24% de 744 escritores preveem o mesmo futuro;
  • 42% de 2.306 designers gráficos estimam o mesmo.

O site usa dados coletados por uma instituição de pesquisa em mercado de trabalho, a O*NET, para fazer seus cálculos com ajuda de um algoritmo com inteligência artificial.

Afina, qual é o risco?

A mesma plataforma calcula que o risco de artistas perderem o emprego para tecnologia não é tão alto — ao menos, não nos próximos anos.

  • Há apenas 13% de chance de vagas em edição de vídeo serem ocupadas por IAs nos próximos 20 anos.
  • Em escrita literária, a estimativa é de 8%.
  • Em design gráfico, apenas 4%.

Contudo, outros empregos possuem risco elevado:

  • Operadores de caixa: 96%;
  • Inspetores de transporte: 89%;
  • Analistas financeiros: 84%.

Agregar ou destruir relações? Ainda é incerto

O temor dos profissionais — seja da área criativa, seja de outras áreas - é legítimo. Essa transformação digital deverá ser vista de perto e fiscalizada. Mas ainda não existe uma resposta em definitivo. Isso acontecerá conforme as tecnologias evoluírem e se tornarem mais (ou menos) inteligentes.

O lado que defende seu uso argumenta que a IA virá para somar no mercado de trabalho. Para eles é provável é que alguns empregos sejam eliminados e substituídos por outros mais especializados. E, paralelamente, o processo abrirá novas oportunidades de emprego.

Segundo o relatório "Futuro dos Trabalhos", do Fórum Econômico Mundial de Davos:

  • Avanços em IA serão um dos principais fatores de mudança do mercado profissional do amanhã, automatizando "tarefas de trabalhadores capacitados" por muito tempo consideradas "impráticas de serem realizadas por máquinas";
  • Primeiras mudanças já eram visíveis em 2016 e disrupção seria sentida em 2020 -- a pandemia de covid-19 pode ter impactado e adiado essa previsão.

A visão de Hod Lipson, engenheiro e fundador da Creative Machines, laboratório de IAs criativas, é de defender seu território:

É uma tecnologia poderosa, mas ainda é subserviente aos humanos. As IAs vão acabar com alguns trabalhos, mas beneficiarão muitas pessoas. E isso vai acontecer em todas as áreas. Muita IA é assim: é uma má notícia para um pequeno grupo de pessoas, mas é um bom uso para mais pessoas"Hod Lipson, engenheiro

Empregos morrerão (e nascerão) à cada dia

Novos trabalhos surgirão de modo geral, acreditam os mais entusiastas. Segundo essa linha, a automatização não eliminará o surgimento de problemas, um elemento essencial da existência ou modificação de trabalhos. Logo, existirá demanda para absorver profissionais com habilidades diversas.

Robôs e programas não tiram empregos. Se você usar muitos softwares ou robôs em uma fábrica, você não precisa demitir os funcionários que estavam lá antes. Você pode remanejá-los. Você pode treiná-los para fazer outras tarefas. Gary Bolles, professor do LinkedIn Learning e do Singularity Institute, instituição que estuda futuro da sociedade

Dentro dessa perspectiva, novas linhas de trabalho devem se modificar e, portanto, o mercado deverá contratar profissionais não só pela experiência ou níveis de graduação. Mas, sim, pelos conjuntos de habilidades — como criatividade, raciocínio lógico, atendimento ao público.

Esse caminho de transformação vale também para o mercado criativo, na opinião dos entrevistados.

Para Bolles, o cenário no Brasil se torna preocupante quando se fala da força de trabalho informal, que inclui profissionais autônomos e liberais que operam sem garantias legais.

O professor alerta que isso forçará dois caminhos para evitar uma crise de desemprego em massa com trabalhadores não capacitados:

  1. O mercado pode colocar a responsabilidade de se manter empregável nas costas dos profissionais e das empresas;
  2. A sociedade pode se organizar, como economia, protegendo os direitos dos trabalhadores através de leis que impedem as demissões em massa.