terça-feira, 1 de julho de 2025

Janja estava certa?

 Janja estava certa? 

'Nós também proibimos o TikTok', diz pesquisador chinês

A primeira-dama Rosângela Lula da Silva, a Janja, protagonizou uma polêmica ao questionar o presidente chinês, Xi Jinping, sobre os impactos do TikTok no Brasil e o avanço da extrema direita no Brasil, durante a viagem do presidente Lula à China no início de maio.

Se a rede social favorece ou não determinados conteúdos, fato é que, por lá, a plataforma, que pertence à chinesa ByteDance, também sofre restrições, conta o pesquisador chinês David Li, tido como "embaixador da inovação da China".

Nós também proibimos o TikTok na China, mas temos uma empresa gêmea que funciona lá e que obedece às regulamentações que o governo determinou

David Li, diretor do Laboratório de Inovação Aberta de Shenzhen

De passagem pelo Brasil para participar do 5º Congresso Brasileiro de Internet, promovido pela Abranet, Li falou com exclusividade a Deu Tilt, o podcast para os humanos por trás das máquinas, em maio.

Li reconhece que equilibrar soberania nacional e liberdade individual, sobretudo na internet, é desafiador, sobretudo para "evitar um desequilíbrio de forças". Em meio ao embate, há países com mais liberdade e menos regulação. A primeira-dama ouviu do presidente chinês queregular ou não o TikTok era uma decisão do Brasil.


O TikTok possui um app gêmeo liberado na terra de Xi Jinping e que também pertence à ByteDance. A diferença é o conteúdo. Com mais de 100 milhões de usuários, o Douyin também conta com vídeos curtos, altamente viralizáveis, mas com uma proposta diferente.

Várias pesquisas mostram o tipo de conteúdo que circula lá. Se no TikTok estamos acostumados com dancinha e muito entretenimento, na China o que muitas pesquisas mostram é que [no Douyin] é um conteúdo com muito mais informação, mais pedagógico, com aspecto mais educacional mesmo

Diogo Cortiz

No ocidente, os conteúdos viralizados pelo app de vídeos curtos são tão efêmeros que contribuíram para o surgimento do termo "brain rot" (cérebro podre, em tradução literal).

Talvez essa estratégia da ByteDance possa estar emburrecendo o ocidente e fortalecendo ainda mais as próximas gerações na China

Diogo Cortiz

Ter regras distintas no país já é algo amplamente conhecido. No caso do ambiente digital, a Administração do Ciberespaço é o órgão responsável por controlar, autorizar, acompanhar e regulamentar tudo o que acontece na internet, desde o funcionamento dos sistemas de recomendação até a autonomia do usuário.

Os chineses entendem bem isso: a questão de impor regras e fazer com que plataformas de outros lugares e as nacionais terem de obedecer regras muito estritas.

Uma coisa que não está na resposta do David Li, mas já ficou no ar, é que a China é uma ditadura e a ByteDance adotou um certo conteúdo por lá porque os chineses impuseram isso

Helton Simões Gomes

Enquanto as empresas que operam no país precisam seguir as decisões dos membros do partido, as companhias de regimes democráticos adotam postura bem diferente.

A regulação [no ocidente] é um processo democrático, participativo, mas tem os interesses das plataformas e é um interesse que entra de uma maneira muito forte, com muito dinheiro, muito capital e muito poder também.

Já olhei vários processos regulatórios dentro da China e é muito pró bem-estar da sociedade, não é visando o lucro da empresa, a capitalização das big techs chinesas, é focando o bem-estar da sociedade e um desenvolvimento intelectual daquela comunidade

Diogo Cortiz


Nesse sentido, as movimentações das grandes empresas de tecnologia não só fazem parte do jogo de decisão, mas também costumam influenciá-lo.


Nem sempre o interesse da empresa e o que ela julga como sendo benéfico para ela está em sintonia com o bem-estar da sociedade

Helton Simões Gomes

Como a China fez aldeia de pescadores virar maior polo de inovação do país?

Atualmente com 17,66 milhões de habitantes, Shenzhen é uma metrópole chinesa projetada para a grandeza a partir de uma origem humilde. Em menos de 40 anos ela passou de uma simples vila para lar de gigantes da tecnologia como Huawei e Tencent. A cidade é considerada o principal centro de inovação do oriente. E não é à toa.

De acordo com David Li, diretor do Laboratório de Inovação Aberta de Shenzhen, conta que inicialmente diferentes empresas, estrangeiras inclusive, contratavam serviços da região para construção de peças e ferramentas. Com o tempo isso foi mudando. Hoje Shenzhen é uma potência local, não mais dependente do mercado estrangeiro.


A China tem a intenção de ser a melhor em tudo ou em qualquer coisa, mas não exclusivamente às custas dos outros. Existe a possibilidade e a necessidade que nós temos de partilhar esse conhecimento com outras nações para ajudar no crescimento e desenvolvimento de outras tecnologias

David Li, diretor do Laboratório de Inovação Aberta de Shenzhen

Problemas com os eua?  "Mais mil dias de governo Trump. Uma hora acaba.'

Ao apontar como o país está acostuma a lidar com os americanos, David Li quase soltou um "eles passarão, nós passarinho". Depois de a Casa Branca impor sanções e tarifas, Li afirma que "os americanos gostam muito de ameaçar, de impor as vontades deles e nós sabemos que isso não cola"

Na China nós temos sabedoria suficiente para nos preocuparmos primeiro com a nossa necessidade pessoal, depois satisfazer a necessidade dos mercados parceiros. Se por acaso não houver uma alternativa de negociação, a gente espera um tempo. Agora nós temos mais mil dias de governo Trump, uma hora ele vai acabar, e quando isso acontecer outra pessoa vai assumir e então a gente pode sentar na mesa e tentar negociar

David Li, diretor do Laboratório de Inovação Aberta de Shenzhen

'EUA fazem ótimos powerpoints, são ótimos vendedores'

A China tem um plano de se tornar uma potência global em inteligência artificial até 2030. E parece não ter medo de afrontar ninguém pelo caminho —nem mesmo se esse alguém for os EUA e tiver objetivos tão grandiosos quanto ela.

O que os Estados Unidos fazem é muita propaganda, eles fazem ótimos powerpoints, são ótimos vendedores, mas na hora de prestar o serviço, de manter o serviço funcional durante um longo período de tempo, que é o que a população deseja, eles não têm essa expertise

David Li, diretor do Laboratório de Inovação Aberta de Shenzhen

por Diogo Cortiz, Helton Simões Gomes e Carla Araújo      *colaborou Ruam Oliveira

DEU TILT

Em carta conjunta, candidatos à presidência do PT afirmam que Congresso tenta “sufocar” governo Lula

Em carta conjunta, candidatos à presidência do PT afirmam que Congresso tenta “sufocar” governo Lula

Documento é assinado por Valter Pomar, Romênio Pereira e Rui Falcão

01 de julho de 2025, 09:09 

247 - Três dos quatro candidatos à presidência nacional do Partido dos Trabalhadores divulgaram nesta semana uma carta aberta à militância com duras críticas ao Congresso Nacional e um alerta sobre o que classificam como uma ameaça ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). As informações são da CNN Brasil.

No documento, assinado por Valter Pomar (Articulação de Esquerda), Romênio Pereira (Movimento PT) e Rui Falcão (Novo Rumo), os presidenciáveis petistas afirmam que há um esforço articulado, inclusive com apoio de partidos que compõem o governo, para enfraquecer Lula.

“O alerta: a situação política é gravíssima. A maioria do Congresso Nacional, inclusive os partidos de direita com ministros no governo federal, está tentando sufocar o governo Lula”, afirmam.

A carta foi divulgada após o Congresso Nacional aprovar o Projeto de Decreto Legislativo (PDL) que revogou o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) proposto pelo governo, com estimativa de arrecadação de até R$ 10 bilhões em 2025. A proposta foi rejeitada com 383 votos na Câmara e aprovação simbólica no Senado, gerando novo atrito entre os poderes.

“A votação foi a gota d’água de algo que está acontecendo desde o golpe contra a presidenta Dilma, em 2016. Os parlamentares de direita querem governar o Brasil, esvaziando os poderes que o povo delegou ao presidente Lula”, diz o texto.

O único candidato à presidência do partido que não assinou a carta foi Edinho Silva, ex-prefeito de Araraquara (SP) e representante da corrente majoritária Construindo um Novo Brasil, ligada ao ex-presidente Lula.

A Advocacia-Geral da União (AGU) deve entrar com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira (1º) para tentar restaurar a validade do decreto do IOF. No manifesto, os signatários também propõem uma série de medidas para enfrentar o momento político:

  • Mobilização popular contra o arrocho fiscal e os juros do Banco Central;

  • Substituição de ministros cujos partidos se opõem ao governo;

  • Judicialização da revogação do IOF no STF;

  • Revisão de subsídios que beneficiam os mais ricos.

“O povo votou em Lula. O Congresso quer governar no lugar de Lula. Lula quer melhorar a vida dos pobres. A direita no Congresso quer proteger os ricos”, acusam os petistas.

sábado, 21 de junho de 2025

Juiz que livrou golpista que destruiu relógio entra na mira do STF

 ATOS ANTIDEMOCRÁTICOS

Juiz que livrou golpista que destruiu relógio entra na mira do STF

Moraes afirma que Lourenço Ribeiro proferiu decisão fora de sua competência, ao libertar da prisão o homem que destruiu relógio histórico no 8 de Janeiro, e determina que o magistrado mineiro seja investigado. TJ-MG também vai apurar o caso

O juiz Lourenço Migliorini Fonseca Ribeiro -  (crédito:  Divulgação)
 O juiz Lourenço Migliorini Fonseca Ribeiro - (crédito: Divulgação)

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a volta à prisão do homem que quebrou um relógio histórico do Palácio do Planalto, durante os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Na mesma decisão, o magistrado ordenou uma investigação para apurar a conduta do juiz Lourenço Migliorini Fonseca Ribeiro, da Vara de Execuções Penais de Uberlândia (MG), responsável por conceder a liberdade ao extremista. O Tribunal de Justiça de Minas Gerais também abriu procedimento para apurar o caso. Horas depois da ordem de Moraes, a Polícia Federal prendeu o condenado.
Lourenço Ribeiro autorizou a progressão de regime, do fechado ao semiaberto, para o mecânico Antônio Cláudio Alves Ferreira - condenado pelo STF a 17 anos de reclusão por destruir um relógio raro presenteado pela Corte Francesa a Dom João VI.

De acordo com Moraes, o magistrado não poderia ter tomado a decisão de liberar o golpista. "O juiz de direito Lourenço Migliorini Fonseca Ribeiro proferiu decisão fora do âmbito de sua competência, não havendo qualquer decisão desta Suprema Corte que tenha lhe atribuído a competência para qualquer medida a não ser a mera emissão do atestado de pena", enfatizou.

O ministro destacou, também, que Lourenço Ribeiro não seguiu requisitos previstos em lei para a concessão da progressão de regime. Também argumentou que o condenado cumpriu apenas 16% da pena. O ministro ressaltou que Antônio Ferreira foi sentenciado por crimes praticados com violência e grave ameaça, o que exige o cumprimento mínimo de 25% em regime fechado.

"Como se vê, além da soltura ter ocorrido em contrariedade à expressa previsão legal, foi efetivada a partir de decisão proferida por juiz incompetente em relação ao qual - repita-se - não foi delegada qualquer competência", escreveu Moraes. Nos bastidores, a postura de Lourenço Ribeiro é vista como uma provocação à Suprema Corte, com possível motivação política.

Ao conceder a progressão, o juiz de Minas Gerais argumentou que o bolsonarista teria direito porque "cumpriu a fração necessária de pena imposta no regime semiaberto, conforme se extrai do cálculo de liquidação de penas". Também alegou "boa conduta" do extremista.

O condenado deixou o Presídio Professor Jacy de Assis, em Uberlândia, na terça-feira, cerca de um ano e meio depois de ter sido detido. Ele foi liberado sem as medidas cautelares necessárias. O Tribunal de Justiça do estado afirmou que não havia tornozeleira eletrônica e, por isso, o mecânico saiu da prisão sem o equipamento de monitoramento. No entanto, a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp) negou a falta de tornozeleiras e afirmou que cerca de 4 mil estão disponíveis.

Ao liberar o golpista, Lourenço Ribeiro ordenou que o mecânico não saísse de Uberlândia, comparecesse ao presídio sempre que solicitado e mantivesse atualizado no sistema penitenciário estadual os dados de contato.

Corregedoria

Também nesta sexta-feira, a Corregedoria-Geral do TJ-MG instaurou procedimento para apurar o caso, apesar de não citar diretamente Lourenço Ribeiro. "Na oportunidade, o TJ-MG reafirma o seu compromisso com a legalidade, os princípios do Estado Democrático de Direito e o irrestrito respeito às ordens judiciais emanadas dos tribunais superiores", completa o comunicado.

O presidente da Associação Nacional da Advocacia Criminal (Anacrim), Eduardo Araújo, destacou que os processos que envolvem o 8 de janeiro devem ficar sob responsabilidade da Suprema Corte. "É o regimento interno do STF que regula essa matéria. A execução penal nesses casos também é de competência do tribunal", disse.

Para o criminalista, não há abuso de autoridade na decisão de Moraes, e todas as condutas devem ser apuradas. "Não se está cravando a responsabilidade do magistrado ainda, mas é um caso que levanta suspeitas e que precisa, pelo menos, ser investigado, como foi determinado", completou Araújo.

O professor de processo penal João Pedro Mello partilhou do mesmo entendimento. "Se o ministro, em sua independência, viu indício de crime, está no âmbito de suas atribuições, de seus poderes-deveres, recomendar a investigação. Poderia, no entanto, ter-se fundamentado de forma mais analítica. Não está claro sequer qual é a hipótese criminosa em face do juiz, em qual tipo penal, em tese, sua conduta se enquadraria", ressaltou.

Mello frisou que o juízo natural para os procedimentos decorrentes dos casos do 8 de janeiro é o Supremo Tribunal Federal porque há a possibilidade de envolvimento de autoridades com prerrogativa de foro. "Não é uma questão sem controvérsias. Historicamente, a atração por conexão da competência para julgar pessoas que não são autoridades públicas produz debates sempre que há casos de grande repercussão. Nesse caso, o STF decidiu por maioria por sua própria competência", explicou.

segunda-feira, 3 de março de 2025

“Hoje é dia de sentir ainda mais orgulho de ser brasileiro", diz Lula

 

“Hoje é dia de sentir ainda mais orgulho de ser brasileiro", diz Lula

Presidente celebrou a conquista histórica de Ainda Estou Aqui e destacou a importância da obra contra o autoritarismo

Juca Avelino (neto de Eunice e Rubens Paiva), Hugo Motta, Hugo Motta, Lula, Chico Rubens Paiva e Davi Alcolumbre
Juca Avelino (neto de Eunice e Rubens Paiva), Hugo Motta,, Lula, Chico Rubens Paiva e Davi Alcolumbre (Foto: Ricardo Stuckert / PR)

247 – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou a conquista histórica do Oscar de Melhor Filme Internacional pelo Brasil. O longa Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, tornou-se o primeiro filme brasileiro a vencer a categoria na premiação da Academia de Hollywood. Em uma publicação nas redes sociais, Lula celebrou o feito e enalteceu a relevância da obra.

“Hoje é o dia de sentir ainda mais orgulho de ser brasileiro. Orgulho do nosso cinema, dos nossos artistas e, principalmente, orgulho da nossa democracia. Eu e Janja estamos muito felizes assistindo tudo ao vivo”, escreveu o presidente. Lula também exaltou os envolvidos na produção e ressaltou a mensagem política do filme. “O Oscar de Melhor Filme Internacional para Ainda Estou Aqui é o reconhecimento do trabalho de Walter Salles e toda equipe, de Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, Selton Mello, do Marcelo Rubens Paiva e família e todos os envolvidos nessa extraordinária obra que mostrou ao Brasil e ao mundo a importância da luta contra o autoritarismo. Parabéns! Viva o cinema brasileiro, viva Ainda Estou Aqui.”

Um marco para o cinema brasileiro

A vitória de Ainda Estou Aqui representa a primeira conquista do Brasil na categoria de Melhor Filme Internacional. Em seu discurso de agradecimento, o cineasta Walter Salles dedicou o prêmio a Eunice Paiva, personagem central da trama. "Uma honra tão grande. Isso vai para uma mulher que teve uma perda tão grande. Esse prêmio vai para ela, Eunice Paiva, e para as mulheres extraordinárias que deram vida a ela, Fernanda Torres e Fernanda Montenegro", declarou.

O filme retrata a história de Eunice Paiva, que enfrentou o desaparecimento e assassinato de seu marido, o engenheiro e ex-deputado Rubens Paiva, durante a ditadura militar. O roteiro é baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva, filho do casal, que transformou a trágica trajetória da família em um relato emblemático sobre os crimes cometidos pelo regime.

Antes desta conquista, o Brasil já havia sido indicado quatro vezes ao Oscar na categoria: O Pagador de Promessas (1963), O Quatrilho (1996), O Que É Isso, Companheiro? (1998) e Central do Brasil (1999), mas nunca havia levado a estatueta.

Reconhecimento global e impacto político

A vitória de Ainda Estou Aqui também carrega um simbolismo político, ao destacar um período de repressão e autoritarismo que marcou a história do Brasil. Ao narrar a resistência de Eunice Paiva e expor os horrores da ditadura militar, a obra reacende o debate sobre memória, verdade e justiça no país.

Embora seja a primeira vitória de um filme exclusivamente brasileiro na categoria, Orfeu Negro (1960), uma coprodução entre Brasil, França e Itália, já havia vencido o prêmio, mas representando oficialmente a França.

Com a conquista de Ainda Estou Aqui, o cinema nacional ganha reconhecimento global, reafirmando sua capacidade de produzir narrativas potentes e impactantes. A celebração de Lula reflete o sentimento de um país que vê sua história ser contada e reconhecida na maior premiação do cinema mundial.