Janja estava certa?
'Nós também proibimos o TikTok', diz pesquisador chinês
A primeira-dama Rosângela Lula da Silva, a Janja, protagonizou uma polêmica ao questionar o presidente chinês, Xi Jinping, sobre os impactos do TikTok no Brasil e o avanço da extrema direita no Brasil, durante a viagem do presidente Lula à China no início de maio.
Se a rede social favorece ou não determinados conteúdos, fato é que, por lá, a plataforma, que pertence à chinesa ByteDance, também sofre restrições, conta o pesquisador chinês David Li, tido como "embaixador da inovação da China".
Nós também proibimos o TikTok na China, mas temos uma empresa gêmea que funciona lá e que obedece às regulamentações que o governo determinou
David Li, diretor do Laboratório de Inovação Aberta de Shenzhen
De passagem pelo Brasil para participar do 5º Congresso Brasileiro de Internet, promovido pela Abranet, Li falou com exclusividade a Deu Tilt, o podcast para os humanos por trás das máquinas, em maio.
Li reconhece que equilibrar soberania nacional e liberdade individual, sobretudo na internet, é desafiador, sobretudo para "evitar um desequilíbrio de forças". Em meio ao embate, há países com mais liberdade e menos regulação. A primeira-dama ouviu do presidente chinês queregular ou não o TikTok era uma decisão do Brasil.
O TikTok possui um app gêmeo liberado na terra de Xi Jinping e que também pertence à ByteDance. A diferença é o conteúdo. Com mais de 100 milhões de usuários, o Douyin também conta com vídeos curtos, altamente viralizáveis, mas com uma proposta diferente.
Várias pesquisas mostram o tipo de conteúdo que circula lá. Se no TikTok estamos acostumados com dancinha e muito entretenimento, na China o que muitas pesquisas mostram é que [no Douyin] é um conteúdo com muito mais informação, mais pedagógico, com aspecto mais educacional mesmo
Diogo Cortiz
No ocidente, os conteúdos viralizados pelo app de vídeos curtos são tão efêmeros que contribuíram para o surgimento do termo "brain rot" (cérebro podre, em tradução literal).
Talvez essa estratégia da ByteDance possa estar emburrecendo o ocidente e fortalecendo ainda mais as próximas gerações na China
Diogo Cortiz
Ter regras distintas no país já é algo amplamente conhecido. No caso do ambiente digital, a Administração do Ciberespaço é o órgão responsável por controlar, autorizar, acompanhar e regulamentar tudo o que acontece na internet, desde o funcionamento dos sistemas de recomendação até a autonomia do usuário.
Os chineses entendem bem isso: a questão de impor regras e fazer com que plataformas de outros lugares e as nacionais terem de obedecer regras muito estritas.
Uma coisa que não está na resposta do David Li, mas já ficou no ar, é que a China é uma ditadura e a ByteDance adotou um certo conteúdo por lá porque os chineses impuseram isso
Helton Simões Gomes
Enquanto as empresas que operam no país precisam seguir as decisões dos membros do partido, as companhias de regimes democráticos adotam postura bem diferente.
A regulação [no ocidente] é um processo democrático, participativo, mas tem os interesses das plataformas e é um interesse que entra de uma maneira muito forte, com muito dinheiro, muito capital e muito poder também.
Já olhei vários processos regulatórios dentro da China e é muito pró bem-estar da sociedade, não é visando o lucro da empresa, a capitalização das big techs chinesas, é focando o bem-estar da sociedade e um desenvolvimento intelectual daquela comunidade
Diogo Cortiz
Nesse sentido, as movimentações das grandes empresas de tecnologia não só fazem parte do jogo de decisão, mas também costumam influenciá-lo.
Nem sempre o interesse da empresa e o que ela julga como sendo benéfico para ela está em sintonia com o bem-estar da sociedade
Helton Simões Gomes
Como a China fez aldeia de pescadores virar maior polo de inovação do país?
Atualmente com 17,66 milhões de habitantes, Shenzhen é uma metrópole chinesa projetada para a grandeza a partir de uma origem humilde. Em menos de 40 anos ela passou de uma simples vila para lar de gigantes da tecnologia como Huawei e Tencent. A cidade é considerada o principal centro de inovação do oriente. E não é à toa.
De acordo com David Li, diretor do Laboratório de Inovação Aberta de Shenzhen, conta que inicialmente diferentes empresas, estrangeiras inclusive, contratavam serviços da região para construção de peças e ferramentas. Com o tempo isso foi mudando. Hoje Shenzhen é uma potência local, não mais dependente do mercado estrangeiro.
A China tem a intenção de ser a melhor em tudo ou em qualquer coisa, mas não exclusivamente às custas dos outros. Existe a possibilidade e a necessidade que nós temos de partilhar esse conhecimento com outras nações para ajudar no crescimento e desenvolvimento de outras tecnologias
David Li, diretor do Laboratório de Inovação Aberta de Shenzhen
Problemas com os eua? "Mais mil dias de governo Trump. Uma hora acaba.'
Ao apontar como o país está acostuma a lidar com os americanos, David Li quase soltou um "eles passarão, nós passarinho". Depois de a Casa Branca impor sanções e tarifas, Li afirma que "os americanos gostam muito de ameaçar, de impor as vontades deles e nós sabemos que isso não cola"
Na China nós temos sabedoria suficiente para nos preocuparmos primeiro com a nossa necessidade pessoal, depois satisfazer a necessidade dos mercados parceiros. Se por acaso não houver uma alternativa de negociação, a gente espera um tempo. Agora nós temos mais mil dias de governo Trump, uma hora ele vai acabar, e quando isso acontecer outra pessoa vai assumir e então a gente pode sentar na mesa e tentar negociar
David Li, diretor do Laboratório de Inovação Aberta de Shenzhen
'EUA fazem ótimos powerpoints, são ótimos vendedores'
A China tem um plano de se tornar uma potência global em inteligência artificial até 2030. E parece não ter medo de afrontar ninguém pelo caminho —nem mesmo se esse alguém for os EUA e tiver objetivos tão grandiosos quanto ela.
O que os Estados Unidos fazem é muita propaganda, eles fazem ótimos powerpoints, são ótimos vendedores, mas na hora de prestar o serviço, de manter o serviço funcional durante um longo período de tempo, que é o que a população deseja, eles não têm essa expertise
David Li, diretor do Laboratório de Inovação Aberta de Shenzhen
por Diogo Cortiz, Helton Simões Gomes e Carla Araújo *colaborou Ruam Oliveira
DEU TILT
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