domingo, 9 de outubro de 2011


Nobel iluminado pelo sol de Lisboa


    
O Prêmio Nobel de Literatura deste ano, contrariando as apostas de sempre, tendendo ao prosador israelense Amos Oz e/ou ao versejador sírio-libanês Adonis, pseudônimo de Ali Ahmed Said Esber, foi anunciado quinta-feira passada, dia 6, para o poeta e tradutor sueco Tomas Tranströmer (foto), de 80 anos. Toda vez que um intelectual daquela nação é galardoado com esse Nobel, podem surgir surtos de suspeita: primeiro, a homenagem é patrocinada pela própria Suécia; segundo, na ocasião anterior de atribuição a suecos, concedeu-se duplamente a dois membros do júri da escolha do laurel, presentes à reunião, Eyvind Johnson e Harry Martinson, em 1974.

Foi o contrário do compatriota Erik Axel Karlfeldt, o qual recusou a honraria em 1918, alegando ser secretário permanente da Academia Sueca, responsável pela homenagem. Fora do cargo, Karlfeldt só a aceitou em 1931. Johnson e Martinson ficaram tão estigmatizados que se duvida terem motivado muitos leitores fora da Suécia, de 37 anos para cá. Antes de ser contemplado, Martinson ainda era conhecido como autor do poema homônimo adaptado para uma ópera de ficção científica, Aniara, de Karl-Birger Blomdahl, estreada em 1959. Dez anos depois, circulava no Brasil long-play cujo lado A, paralelamente à trilha-sonora original do filme, também vendida fonograficamente, continha orquestrações do repertório de 2001: uma odisseia no espaço (2001: a space odissey), de Stanley Kubrick, em 1968; e na face B, instrumentações e árias de Aniara.

Entretanto, suecos ganhadores do Nobel de Literatura foram poucos, sete. Abrangem os esquecidos Verner von Heidenstam, em 1916, e Karlfeldt. Mas também dois gigantes da prosa, Selma Lagerlöf, em 1909, e Pär Lagerkvist, em 1951.

Ao invés de Johnson e Martinson, a Academia Sueca poderia ter manifestado criatividade bairrista, por meio de um Nobel de Literatura opcional, como roteirista, para o então sueco vivo de maior celebridade, o cineasta Ingmar Bergman.

Afinal, diretores cinematográficos franceses, a exemplo de Marcel Pagnol e Jean Cocteau, ainda que ambos fossem mais conhecidos como literatos, além de René Clair, se assentaram na Academia Francesa de Letras. Assim como Nelson Pereira dos Santos pertence atualmente à Academia Brasileira.

Dois anos depois, Bergman se autoexilaria da terra natal, depois de sofrer constrangimentos numa delegacia de Polícia por imbróglio negociável com o imposto de renda.

Mas, tudo indica que Tranströmer é merecedor do prêmio. Só existe um acesso em português aos versos dele, a coletânea 21 poetas suecos, publicada 30 anos atrás na capital portucalense. Nela consta o poema “Lisboa”, com esse conteúdo: ‘Roupa branca no azul. Os muros quentes/As moscas liam cartas microscópicas/Seis anos mais tarde perguntei a uma senhora de Lisboa/ será verdade ou só um sonho meu?”

Frederico Fontenele Farias
fred@opovo.com.br
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