sábado, 18 de setembro de 2021

PADRE FRANCISCO INÁCIO DA LUZ, O PRIMEIRO PÁROCO DE SANTANA DE ANTAS ERA UM GRANDE ARTISTA

Com a construção da Capela de Sant'Ana de Antas em 1871, foi provisionado o vigário paroquial Pe. Francisco Inácio da Luz, que já em 1873 tornou-se o primeiro pároco da localidade. Como se pode atestar pela sua biografia na série Patronos da Academia Pirenopolina de Letras, Artes e Música, Padre Francisco Inácio teve uma marcante passagem pela história santanantense, não obstante ter protagonizado o célebre episódio que envolveu a disputa da água do Rego Grande, o curso de água que cortava o largo de Santana. 
Além do grande talento artístico descrito na biografia -"Bom marceneiro, hábil mecânico, pintor exímio e musicista renomado"-  Francico da Luz era também fazendeiro e comerciante empreendedor. Instalou logo abaixo da capela a sua serraria, para a qual, conta-se, desviou o curso do Rego Grande para movimentar as máquinas. Tal feito causou profundas discórdias na nascente comunidade antense, o que também está descrito na biografia -"Em 1870, tornou-se capelão provisório de Santana das Antas, hoje Anápolis, e quando o local se tornou uma freguesia (06.08.1873), continuou como seu pároco até 11.03.1875, ocasião em que, sendo desrespeitado por pessoas da sociedade anapolina, voltou para Pirenópolis". Assim, Francisco da Luz foi embora de Antas para viver os últimos tres anos de sua vida.

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Francisco Inácio da Luz (Pirenópolis 21.02.1821 – 27.08.1878) foi músico, compositor, instrumentista, regente, pintor, escultor, inventor e marceneiro. Filho do professor e grande musicista José Inácio do Nascimento e de Ana da Glória, que era filha do padre Francisco Inácio de Faria Vivas, estudou com o pai o curso primário. Depois estudou humanidades no colégio do padre Manuel Pereira de Sousa e teve como colegas os irmãos André e João Augusto de Pádua Fleury e o padre José Joaquim do Nascimento. Depois disso, resolveu seguir a vida eclesiástica e, em 10.03.1844, ordenou-se na Cidade Goiás pelo bispo Dom Francisco Ferreira de Azevedo. 
Como patrimônio de sua ordenação, recebeu de doação de seus pais, em 18.08.1843, o casarão que está localizado bem em frente à Matriz. 
Padre Francisco era capelão do Carmo no ofício de sacerdote, foi coadjutor de seu primo, vigário José Joaquim do Nascimento, e também capelão da capela filial da Igreja do Carmo. Aproximadamente onde hoje está a Aldeia da Paz, ele edificou um sobrado. 
      Em 1870, tornou-se capelão provisório de Santana das Antas, hoje Anápolis, e quando o local se tornou uma freguesia (06.08.1873), continuou como seu pároco até 11.03.1875, ocasião em que, sendo desrespeitado por pessoas da sociedade anapolina, voltou para Pirenópolis. Jarbas Jayme o define assim: “Bom marceneiro, hábil mecânico, pintor exímio e musicista renomado. Nos arquivos musicais de Pirenópolis, encontram-se belíssimas e extraordinárias produções desse grande discípulo da Euterpe.” 
O mesmo autor conta interessante causo a seu respeito: “Fez um realejo que causava admiração aos que o ouviam. Tivemos ocasião de falar com pessoas que conheceram dito instrumento, dentre elas, o major Silvino Odorico de Siqueira, discípulo do padre Francisco.” (Jayme, Famílias, p. 331.) 
Segundo Braz de Pina, durante sua época de estudante, Francisco Inácio da Luz foi para o Rio de Janeiro e lá teve contato com os grandes expoentes da música da época. A capital do Brasil estava em efervescência cultural e muitas eram as novidades vindas da Europa. Ao retornar à sua terra natal, trouxe músicas sacras, teatrais etc., novidades que lecionou a seu brilhante irmão Antônio da Costa Nascimento, que passou a executar com perfeição flauta, clarinete e saxofone. (Pina, p. 8.) 

Na casa da esquerda morou padre Francisco. Foto de Arnaldo Lobato 

Por volta do ano de 1858, Francisco Inácio da Luz fundou a segunda orquestra de nossa cidade. A primeira foi criada pelo Vigário José Joaquim Pereira da Veiga uma década antes. A segunda orquestra era composta por: flauta, Antônio da Costa Nascimento; 1° violino, Francisco Inácio da Luz; 2° violino, Teodolino Graciano de Pina; clarinete, José Inácio da Cunha Teles; violoncelo, José Inácio do Nascimento Júnior; e oficleide, José Rafael da Cunha Teles. (Jayme, Esboço, p. 247.) 
Por contar com talentosos artistas, a segunda orquestra foi maravilhosa. Executava trechos das óperas dos compositores da moda na época, como Vincezo Bellini (1801 – 1835). Na interpretação de árias religiosas, contavam com o valoroso apoio dos irmãos Braz e Teodoro de Pina, que cantavam esplendorosamente.  
             Quando se mudou para Santana das Antas, Francisco passou a direção da orquestra a seu irmão Tonico, que por ser homem de difícil trato, levou-a ao fim, quando dela se afastaram os músicos. Tonico do Padre, irmão de padre Francisco com Maria Francisca de Almeida, filha do capitão Manuel Joaquim de Almeira e Ana Maria da Conceição, teve sete filhos: Francisco Inácio da Luz (Chiquinho do Padre), Querubina Francisca da Luz, Ana Francisca da Luz, Benedita Francisca da Luz, Bárbara Generosa da Luz, Guilhermina Francisca da Luz e Rosa da Luz Nascimento. (Jayme, Famílias, p. 332/333). 
Foi também bom marceneiro, mecânico, pintor exímio e renomado musicista. Foi o fundador da Banda de Música Euterpe, para a qual aproveitou instrumentos remanescentes da velha banda da Guarda Nacional, de Joaquim Alves de Oliveira. 
Francisco Inácio da Luz, ao estudar música com mestres cariocas, mudou a história cultural de Meia Ponte. A partir dele, a evolução musical de nossa terra foi intensa, com modernização harmônica e atualização de temas. Por tudo isso, é Patrono da Cadeira n° VI da Academia Pirenopolina de Letras, Artes e Música. 

 Adriano Curado 
De acordo com o historiador Ramir Curado, o padre Francisco Inácio da Luz pintou o teto da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Penha de França em Corumbá de Goiás."O teto da Matriz foi, inicialmente, pintado por ele. O trabalho deste artista abrangeu também a pintura do arco-cruzeiro(arco que separa a nave da capela mor) e do altar-mor deste templo, tendo sido realizado entre os anos de 1861 e 1863. 
Este homem para nós é um mistério: profissional de competência, fazendeiro de profissão, onde e com quem aprendeu seu ofício artístico?" O historiador Jarbas Jaime, deixou-nos a seguintes informações sobre esse artista: nasceu em Meia Ponte, onde foi batizado a 2 de março de 1821 e que ele era descendente das famílias Costa Teixeira, Silva Ribeiro e Rodrigues Nascimento, todas radicadas em solo meiapontense desde o século XXIII. O mesmo genealogista afirma que o Pe. Francisco estudou humanidades no colégio do Padre Manoel Pereira de Sousa e que foi ordenado em 1844, na cidade de Goiás, por D. Francisco Azevedo, e exercido o seu sacerdócio em Meia Ponte e Antas (Anápolis). 
Sobre as habilidades deste padre, Jarbas nos diz que ele era "bom marceneiro, hábil mecânico, pintor exímio e musicista renomado", tendo formado uma orquestra e a corporação musical Euterpe em Meia Ponte, cidade onde faleceu a 27 de agosto de 1878. 
Ainda a respeito desse artista, ouvimos do Mons. Manoel Fleury Curado, sacerdote corumbaense que viveu de 1887 a 1981, que o Pe. Francisco Inácio da Luz fabricava móveis domésticos e que deixou muitos quadros, por ele pintados, na matriz de N. S. da Penha de Corumbá. Também encontramos seu nome entre os clérigos que foram coadjutores nesse templo, sendo que, nessa época, ele morou numa chácara situada junto à serra dos Leites. Nesse sentido podemos considerar a igreja como primeira estimuladora da produção artística e a de indutora de uma sociabilidade indispensável em uma comunidade. 

*****Elder Rocha Lima Notícias de Corumbá de Goiás 1a Edição IPHAN Ministério da Cultura 2012
*****Lima, Elder Rocha. Notícias de Corumbá de Goiás/Elder Rocha Lima; fotografias de Marcelo Feijó. - Brasília- DF : Superintendência do IPHAN em Goiás 2012.

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