sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Operário dos livros





Por Galeno Amorim
Seu Leonídio lê uns 40 livros por ano. Dos mais diferentes gêneros. É assumidamente um leitor compulsivo.

Não é muito! - logo dizem, ao saberem do seu passado: no último meio século, ele publicou, como editor, nada menos do que dois mil livros; e ainda vendeu, ele próprio, batendo de porta em porta, ou com a ajuda das muitas equipes que criou e liderou, milhões e milhões deles.

Só que não foi sempre assim.

Até os 20 anos, Leonídio era analfabeto. Nascido em Arapiraca, no interior de Alagoas, trocou a vida e o miserê da roça no sertão nordestino pela cidade grande. Embalado pelo sonho de ser alguém na vida, subiu num pau de arara e rumou em direção ao Sul Maravilha. Logo arrumou um bico como faxineiro e tratou de ganhar alguns trocados para não morrer de fome.

Por pura obra do acaso, foi parar no lugar certo. Na pensão onde foi morar e trabalhar, na Praça João Mendes, em São Paulo, o rapaz conheceu uns vendedores de livro, de quem rapidamente ficou amigo. Ouvia seus relatos apaixonados e os causos que contavam sobre a atividade. Soube, então, que eles iam de casa em casa para oferecer livros, muitas vezes para gente como ele, que também não sabia ler. De cara, se encantou!

Embora não soubesse ler ou escrever, em pouco tempo se tornara um vendedor. Para se dar bem no negócio, decorava os títulos e os textos contidos nas orelhas dos livros. Para não ter erro, criou sua própria arte: declamava as informações sobre a obra e seus autores. Estabelecia uma empatia natural com a freguesia. Logo ficaria patente que Leonídio era mesmo um craque no ofício, o que ele próprio descobrira anos antes, enquanto vendia galinhas vivas penduradas no pedaço de pau que carregava entrelaçado sobre os ombros.

Na hora de emitir o pedido de compra, o novo vendedor não se fazia de rogado: passava a incumbência para o freguês, inventando sempre alguma desculpa. Um dia um deles - era um advogado que já tinha comprado muitos livros dele - percebeu. E acabou por convencê-lo de que nunca é tarde para ir para escola. Mas Leonídio, autodidata, acabou fazendo diferente, do seu jeito: se alfabetizou por conta própria, lendo placas de rua, reclames de TV e... capas de livros.

Mas nunca deixou de dar valor à escola. Tanto é que não sossegou enquanto não viu os seis filhos terminarem a faculdade. Outra promessa era trazer a família para morar perto dele em São Paulo. Com o dinheiro dos livros, ele comprou um prédio inteiro no bairro da Aclimação - onde instalou a parentela toda e montou sua própria editora.

Entusiasta da era do conhecimento e incansável, Leonídio Balbino sabe como poucos sobre o poder de transformação que os livros podem ter na vida de uma pessoa. Por isso, não se cansa de apregoar por toda parte que as pessoas - tenham elas a idade que tiverem, e independente de sua situação social e econômica - devem ler, ler, ler... Sempre!

No livro autobiográfico que lançou, O Operário do Livro, diz que, como qualquer um, também teve seus momentos de dor e angústia. E como! Mas que conseguiu superar todas as dificuldades da vida graças a sua vontade de viver e à crença em si próprio.

- E aos livros! - apressa-se em acrescentar esse operário da leitura, que, nos últimos anos, se tornou cidadão honorário nas cidades de São Paulo e Rio, onde também conquistou, além dos títulos e do reconhecimento público, uma legião de amigos e fãs.



Fonte:

agencia@brasilquele.com.br

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