segunda-feira, 7 de julho de 2025

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O livro é caro? As livrarias irão acabar? George Orwell responde

 Opinião

O livro é caro? As livrarias irão acabar? George Orwell responde

     O escritor George Orwell Imagem: ullstein bild via Getty Images

Algum tipo de ficção seguiria existindo, talvez uma sensacionalista de baixo nível, feita numa "esteira transportadora que reduz a iniciativa humana ao mínimo". Afinal, "não estaria além da ingenuidade humana escrever livros por máquinas".

Nesse cenário, "a imaginação —mesmo a consciência, na medida do possível— seria eliminada do processo de escrita". E não, não estamos falando de inteligência artificial. A geringonça da vez estava bem longe de dar as caras.

George Orwell armava uma defesa da literatura em tempos totalitários —e aqui a coisa parece não andar muito diferente— quando compartilhou agonias e projeções desalentadoras. É uma abordagem óbvia olhar para o que o britânico escreveu há mais de sete, oito décadas e enxergar paralelos com o mundo atual. Paciência, clichês não existem por acaso.

A editora Lote 42 acaba de publicar "Na Livraria com Orwell", coleção de ensaios sobre livros, literatura e escrita organizada e traduzida por Gisele Eberspächer. São 8 textos (um de 1936, os demais de 1946) nos quais encontramos pontos de contato entre as questões daquele tempo com os perrengues que temos hoje no universo editorial e literário.

Diante das mudanças que ameaçavam pequenas livrarias, Orwell bradava um discurso que soa familiar: "É um comércio humanizado, que não pode passar de um certo limite de vulgaridade. Os conglomerados nunca vão conseguir espremer os vendedores pequenos e independentes como conseguiram com as lojas de comida ou com os leiteiros". É também uma amostra de como devemos ter parcimônia ao usar a palavra "nunca".

Sobre as motivações que levam alguém a escrever um livro, o autor de "1984" foi ácido. "Todos os escritores são vaidosos, egoístas e preguiçosos, e no fundo de suas motivações há um mistério. Escrever um livro é uma luta horrível e exaustiva, como um longo período de doença dolorosa. Ninguém empreenderia tal coisa se não fosse impelido por algum demônio a quem não se pode resistir nem compreender".

Apesar do mofo que existe aqui e ali nos ensaios de Orwell —preconceitos, ataques grosseiros...—, são textos que seguem pertinentes. Sobre escritores e artistas, reclamava da independência minada perante forças econômicas e doses cavalares da indigência intelectual que acometia muitos de seus pares.

Orwell não caía na bobagem de separar arte de política. Sabia que tentar fazê-lo já seria, em si, uma atitude política. Olhava para a própria produção e notava que viver entre guerras —a Civil Espanhola, a Segunda Guerra Mundial— trazia sérias consequências para sua literatura. "Fui forçado a me tornar uma espécie de panfletário", escreveu ao refletir sobre como suas "lealdades políticas" interferiram em sua obra.

George Orwell foi bastante claro: "Cada linha de trabalho sério que escrevi desde 1936 foi escrita, direta ou indiretamente, contra o totalitarismo e em prol do socialismo democrático". É uma frase para colar em cada interpretação bizarra que pulula a partir de leituras oportunistas de "1984" e "A Revolução dos Bichos"

por Rodrigo Casarin

07/07/2025 05h30

terça-feira, 1 de julho de 2025

Janja estava certa?

 Janja estava certa? 

'Nós também proibimos o TikTok', diz pesquisador chinês

A primeira-dama Rosângela Lula da Silva, a Janja, protagonizou uma polêmica ao questionar o presidente chinês, Xi Jinping, sobre os impactos do TikTok no Brasil e o avanço da extrema direita no Brasil, durante a viagem do presidente Lula à China no início de maio.

Se a rede social favorece ou não determinados conteúdos, fato é que, por lá, a plataforma, que pertence à chinesa ByteDance, também sofre restrições, conta o pesquisador chinês David Li, tido como "embaixador da inovação da China".

Nós também proibimos o TikTok na China, mas temos uma empresa gêmea que funciona lá e que obedece às regulamentações que o governo determinou

David Li, diretor do Laboratório de Inovação Aberta de Shenzhen

De passagem pelo Brasil para participar do 5º Congresso Brasileiro de Internet, promovido pela Abranet, Li falou com exclusividade a Deu Tilt, o podcast para os humanos por trás das máquinas, em maio.

Li reconhece que equilibrar soberania nacional e liberdade individual, sobretudo na internet, é desafiador, sobretudo para "evitar um desequilíbrio de forças". Em meio ao embate, há países com mais liberdade e menos regulação. A primeira-dama ouviu do presidente chinês queregular ou não o TikTok era uma decisão do Brasil.


O TikTok possui um app gêmeo liberado na terra de Xi Jinping e que também pertence à ByteDance. A diferença é o conteúdo. Com mais de 100 milhões de usuários, o Douyin também conta com vídeos curtos, altamente viralizáveis, mas com uma proposta diferente.

Várias pesquisas mostram o tipo de conteúdo que circula lá. Se no TikTok estamos acostumados com dancinha e muito entretenimento, na China o que muitas pesquisas mostram é que [no Douyin] é um conteúdo com muito mais informação, mais pedagógico, com aspecto mais educacional mesmo

Diogo Cortiz

No ocidente, os conteúdos viralizados pelo app de vídeos curtos são tão efêmeros que contribuíram para o surgimento do termo "brain rot" (cérebro podre, em tradução literal).

Talvez essa estratégia da ByteDance possa estar emburrecendo o ocidente e fortalecendo ainda mais as próximas gerações na China

Diogo Cortiz

Ter regras distintas no país já é algo amplamente conhecido. No caso do ambiente digital, a Administração do Ciberespaço é o órgão responsável por controlar, autorizar, acompanhar e regulamentar tudo o que acontece na internet, desde o funcionamento dos sistemas de recomendação até a autonomia do usuário.

Os chineses entendem bem isso: a questão de impor regras e fazer com que plataformas de outros lugares e as nacionais terem de obedecer regras muito estritas.

Uma coisa que não está na resposta do David Li, mas já ficou no ar, é que a China é uma ditadura e a ByteDance adotou um certo conteúdo por lá porque os chineses impuseram isso

Helton Simões Gomes

Enquanto as empresas que operam no país precisam seguir as decisões dos membros do partido, as companhias de regimes democráticos adotam postura bem diferente.

A regulação [no ocidente] é um processo democrático, participativo, mas tem os interesses das plataformas e é um interesse que entra de uma maneira muito forte, com muito dinheiro, muito capital e muito poder também.

Já olhei vários processos regulatórios dentro da China e é muito pró bem-estar da sociedade, não é visando o lucro da empresa, a capitalização das big techs chinesas, é focando o bem-estar da sociedade e um desenvolvimento intelectual daquela comunidade

Diogo Cortiz


Nesse sentido, as movimentações das grandes empresas de tecnologia não só fazem parte do jogo de decisão, mas também costumam influenciá-lo.


Nem sempre o interesse da empresa e o que ela julga como sendo benéfico para ela está em sintonia com o bem-estar da sociedade

Helton Simões Gomes

Como a China fez aldeia de pescadores virar maior polo de inovação do país?

Atualmente com 17,66 milhões de habitantes, Shenzhen é uma metrópole chinesa projetada para a grandeza a partir de uma origem humilde. Em menos de 40 anos ela passou de uma simples vila para lar de gigantes da tecnologia como Huawei e Tencent. A cidade é considerada o principal centro de inovação do oriente. E não é à toa.

De acordo com David Li, diretor do Laboratório de Inovação Aberta de Shenzhen, conta que inicialmente diferentes empresas, estrangeiras inclusive, contratavam serviços da região para construção de peças e ferramentas. Com o tempo isso foi mudando. Hoje Shenzhen é uma potência local, não mais dependente do mercado estrangeiro.


A China tem a intenção de ser a melhor em tudo ou em qualquer coisa, mas não exclusivamente às custas dos outros. Existe a possibilidade e a necessidade que nós temos de partilhar esse conhecimento com outras nações para ajudar no crescimento e desenvolvimento de outras tecnologias

David Li, diretor do Laboratório de Inovação Aberta de Shenzhen

Problemas com os eua?  "Mais mil dias de governo Trump. Uma hora acaba.'

Ao apontar como o país está acostuma a lidar com os americanos, David Li quase soltou um "eles passarão, nós passarinho". Depois de a Casa Branca impor sanções e tarifas, Li afirma que "os americanos gostam muito de ameaçar, de impor as vontades deles e nós sabemos que isso não cola"

Na China nós temos sabedoria suficiente para nos preocuparmos primeiro com a nossa necessidade pessoal, depois satisfazer a necessidade dos mercados parceiros. Se por acaso não houver uma alternativa de negociação, a gente espera um tempo. Agora nós temos mais mil dias de governo Trump, uma hora ele vai acabar, e quando isso acontecer outra pessoa vai assumir e então a gente pode sentar na mesa e tentar negociar

David Li, diretor do Laboratório de Inovação Aberta de Shenzhen

'EUA fazem ótimos powerpoints, são ótimos vendedores'

A China tem um plano de se tornar uma potência global em inteligência artificial até 2030. E parece não ter medo de afrontar ninguém pelo caminho —nem mesmo se esse alguém for os EUA e tiver objetivos tão grandiosos quanto ela.

O que os Estados Unidos fazem é muita propaganda, eles fazem ótimos powerpoints, são ótimos vendedores, mas na hora de prestar o serviço, de manter o serviço funcional durante um longo período de tempo, que é o que a população deseja, eles não têm essa expertise

David Li, diretor do Laboratório de Inovação Aberta de Shenzhen

por Diogo Cortiz, Helton Simões Gomes e Carla Araújo      *colaborou Ruam Oliveira

DEU TILT

Em carta conjunta, candidatos à presidência do PT afirmam que Congresso tenta “sufocar” governo Lula

Em carta conjunta, candidatos à presidência do PT afirmam que Congresso tenta “sufocar” governo Lula

Documento é assinado por Valter Pomar, Romênio Pereira e Rui Falcão

01 de julho de 2025, 09:09 

247 - Três dos quatro candidatos à presidência nacional do Partido dos Trabalhadores divulgaram nesta semana uma carta aberta à militância com duras críticas ao Congresso Nacional e um alerta sobre o que classificam como uma ameaça ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). As informações são da CNN Brasil.

No documento, assinado por Valter Pomar (Articulação de Esquerda), Romênio Pereira (Movimento PT) e Rui Falcão (Novo Rumo), os presidenciáveis petistas afirmam que há um esforço articulado, inclusive com apoio de partidos que compõem o governo, para enfraquecer Lula.

“O alerta: a situação política é gravíssima. A maioria do Congresso Nacional, inclusive os partidos de direita com ministros no governo federal, está tentando sufocar o governo Lula”, afirmam.

A carta foi divulgada após o Congresso Nacional aprovar o Projeto de Decreto Legislativo (PDL) que revogou o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) proposto pelo governo, com estimativa de arrecadação de até R$ 10 bilhões em 2025. A proposta foi rejeitada com 383 votos na Câmara e aprovação simbólica no Senado, gerando novo atrito entre os poderes.

“A votação foi a gota d’água de algo que está acontecendo desde o golpe contra a presidenta Dilma, em 2016. Os parlamentares de direita querem governar o Brasil, esvaziando os poderes que o povo delegou ao presidente Lula”, diz o texto.

O único candidato à presidência do partido que não assinou a carta foi Edinho Silva, ex-prefeito de Araraquara (SP) e representante da corrente majoritária Construindo um Novo Brasil, ligada ao ex-presidente Lula.

A Advocacia-Geral da União (AGU) deve entrar com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira (1º) para tentar restaurar a validade do decreto do IOF. No manifesto, os signatários também propõem uma série de medidas para enfrentar o momento político:

  • Mobilização popular contra o arrocho fiscal e os juros do Banco Central;

  • Substituição de ministros cujos partidos se opõem ao governo;

  • Judicialização da revogação do IOF no STF;

  • Revisão de subsídios que beneficiam os mais ricos.

“O povo votou em Lula. O Congresso quer governar no lugar de Lula. Lula quer melhorar a vida dos pobres. A direita no Congresso quer proteger os ricos”, acusam os petistas.