domingo, 7 de agosto de 2022

AÇÕES REDE COMUNITÁRIA ARCA DAS LETRAS NO NORTE/NOROESTE DE MINAS

 

AÇÕES REDE COMUNITÁRIA ARCA DAS LETRAS NO NORTE NOROESTE DE MINAS

Uma idéia prática e eficiente tem o compon
ente fundamental da simplicidade. Foi essa característica básica do Programa Arca das Letras que permitiu aos colaboradores do Projeto Rede Comunitária desenvolver Oficinas Vivenciais de Produção Audiovisual com seus Agentes de Leitura, gerando registros de manifestações artísticas e culturais em diversas comunidades visitadas, onde quer que se avistasse uma placa com os dizeres "Arca das Letras - Biblioteca Rural", no sertão percorrido por três grandes afluentes do Rio São Francisco , os rios  Paracatu, Urucuia e o Carinhanha que divide Minas Gerais e Bahia.  
                   Estas arcas visitadas são uma pequena parcela das mais de 8.000 bibliotecas rurais implantadas pelo Ministério de Desenvolvimento Agrário desde 2003 em todo o território nacional, instaladas em assentamentos de reforma agrária, comunidades de agricultura familiar, de remanescentes de quilombos, indígenas, ribeirinhas e em colonias de pescadores."O Arca das Letras é um programa destinado prioritariamente às populações do campo, sempre esquecida pelas políticas públicas de acesso à cultura," reafirmam como profissão de fé os colaboradores da Rede Comunitária. Formados na lida dos programas de inclusão social, alimentam as bases do programa, exercitando a experiência no envolvimento de iniciativas comunitárias com  ações governamentais e não governamentais na  implantação das bibliotecas.
                     A articulação de ações convergentes com outros  programas do governo e da sociedade civil tem sido um dos pilares que sustentam a dinâmica de construção coletiva do Arca das Letras. Esta articulação de forças parceiras foi também a base para a realização das Oficinas  Vivenciais de Produção Audiovisual pela Rede Comunitária, produzidas com o suporte de Pontos de Cultura."Está no DNA dos pontos funcionar como agente articulador de várias iniciativas," diz Ellen Parrela, coordenadora do Ponto de Cultura CinePoesia, da TV Geraes de Montes Claros, MG. De vocação inequívoca para o registro e veiculação da cultura regional, o CinePoesia, com seu canal aberto de teleradiodifusão, transformou-se na vitrine para os produtos gerados nas oficinas."Registrar e dar evidência pela TV, vai mostrar de fato o que existe de mais autentico da cultura tradicional do norte de Minas," completa Antônio Raposo, produtor executivo da Cultuarte, entidade que trabalha com a divulgação da cultura regional em São Francisco, cidade às margens do rio do mesmo nome, no norte de Minas Gerais. Foi o próprio Rio São Francisco que descreveu um  itinerário natural para a série de ações desencadeadas por essa rede de parcerias para o registro audiovisual de inúmeras expressões culturais locais. Cabe ressaltar, neste contexto, a importância do projeto Folias, Foliões e seus instrumentos musicais, desenvolvido pela Cultuarte por um circuito de onze cidades mineiras. Sua itinerância leva pelo estado um comboio de exposições, oficinas e apresentações do universo das Folias de Reis, temática intrinsecamente ligada às manifestações da cultura popular de origem rural.
                 Com esse comboio foram alcançadas comunidades ribeirinhas do São Francisco, as chamadas "cidades barranqueiras", onde o Arca das Letras revelou-se uma senha para o estabelecimento de parcerias com gestores municipais, artistas e grupos locais de cultura popular. Em Januária, MG, antigo porto do rio, o evento  Rua da Cultura foi um estuário de ações integradas, ancorado pelo Ponto de Cultura Centro do Artesanato. Foram dois dias de oficinas, exposições, rodas de leitura e apresentações do rico folclore regional, como a Dança de São Gonçalo, Rei dos Cacetes/Marujada, Pastorinhas de Maria da Cruz, entre outros. Na programação, um encontro de Agentes de Leitura do Norte/Noroeste mineiro foi articulado com jovens agentes de leitura que viajaram por longos trechos de estradas de terra para participar da Rua da Cultura,  onde puderam falar de suas experiências como embaixadores da leitura no mundo rural, reconhecendo-se um ao outro como representantes orgulhosos de suas comunidades que voltariam para casa com um reforço especial para suas arcas: o kit  de gibis e álbuns de figurinhas que funcionam como isca para a pescaria em rede de novos leitores.
                 Cantigas de roda de Dona Dazinha no município de Manga e a Igreja de Nossa Senhora da Conceição da cidade de Mathias Cardoso, uma das mais antigas construções de Minas, foram mais algumas das preciosidades barranqueiras  que as câmeras oficineiras registraram de um lado e de outro do São Francisco, acompanhando o cortejo de folias e foliões da Cultuarte. Em novo movimento, embrenharam sertão adentro para alcançar as divisas em que o Rio Carinhanha separa o território mineiro da Bahia. Uma viagem de páginas a folhear leituras visuais de recônditos cenários magistralmente descritos por Guimarães Rosa no Clássico Grande Sertão:Veredas, que não por acaso funcionou como bíblia e guia a conduzir os viajantes do Arca das Letras, da cidade de Urucuia até a Comunidade do Retiro dos Bois, para cumprir a missão de entregar mais três bibliotecas.
                  Atolando em estradas  de areia no meio do cerrado, banhado-se em veredas de buritis tal como Riobaldos Diadorins, a comitiva alcançou um pedaço de Brasil onde nem o Luz Para Todos havia chegado. A solenidade de entrega das arcas que iniciou pela tardinha  adentrou a noite, proporcionando uma bela cena protagonizada pelos capacitadores, que realizaram, à luz de lamparinas, o treinamento dos agentes de leitura. As câmeras registraram o simbolismo daquele momento único: a luz do conhecimento de uma  arca  repleta de livros chegando na frente da luz elétrica, iluminando novas fronteiras do saber para aquela comunidade. Tão expressivo como este momento, foi a acolhida pela alegria da gente do Retiro dos Bois na roda da Dança do Manzuá, curiosa expressão da comunidade em que só participam mulheres, que no ritmado de tambores, dançam e cantam versos de repente, equilibrando uma trouxa de roupas na cabeça, à moda de lavadeiras ancestrais.
                   A festa durou a noite toda e ganhou o dia. E assim, soletrados pelo sertão roseano, seguiram todos da comitiva pra ver Das Neves sorrir do outro lado do Velho Chico.

UM BURITI DO MEIO NO CAMINHO

                   E Das Neves sorriu, algo que pouco faz, alegando a falta de alguns dentes para iluminar largos sorrisos. Mas os lábios a traíram quando segurou nas mãos os primeiros livros e o estandarte da Arca das Letras. Emocionada, agradeceu em nome da sua comunidade de remanescentes de quilombos, pequenos produtores de tradição oleira, organizados em associação na região do Buriti do Meio, município de São Francisco. A força da gente do Buriti do Meio está impressa em potes, vasos, travessas e botijas, rico artesanato em barro daquela região.



Proposta de abordagem - Documentário Livro Letras e Linguagens pelos caminhos do sertão


TV SAGARANA - CONTANDO ROSA NO CAMINHO DO SERTÃO 


Em Sagarana,(Distrito de Arinos MG) existe um permanente clima evocando a literatura de Guimarães Rosa. Por ocasião do encontro de avaliação e planejamento do "Caminho do Sertão", evento de caminhantes realizado a partir de 2014, autodeclarou-se o Ponto de Cultura TV Sagarana. E sob os auspícios da Biblioteca Rural Arca das Letras implantada no local, o contador de histórias Elson Barbosa contou um trecho de Grande Sertão:Veredas. Primeiro passo da caminhada!

O baru torrado na mesa da cozinha, a lua dourada, os pés de pequi apinhado de flores, o pôr-do-sol vermelho-fogo e o cheiro doce de jasmin-manga à noite fazem parte das trilhas de vivências da Vila Sagarana, ponto de partida de nossoa caminhada docomentário pelo sertão. A pequena Vila, com cerca de 400 pessoas, foi o segundo projeto de assentamento do Brasil promovido na década de 70 e, desde então, vem gerindo e desenvolvendo importantes ações em direção a práticas sustentáveis e pesquisas em tecnologias sociais do cerrado. Somado a isso, o imaginário de Guimarães Rosa, marcado no próprio nome da Vila, sublinha a realidade das prosas, dos causos e dos ensinamentos dos mestres e mestras que somam o quadro encantado "feito Rosa para o Sertão".


https://redeccom.blogspot.com.br/search?q=Arca+das+Letras+Sagarana





Secretária de Cultura de Urucuia,
Lauzi Durães convida para a Festa do Carro de Boi

  




Muitos leitores na Arca das Letras da Casa de Concessa em Paracatu MG





























15 ARCAS DAS LETRAS ENTREGUES EM MANGA MG ESPERANDO PELA CAPACITAÇÃO, COORDENADAS PELA REDE COMUNITÁRIA
CONSTRUÍDAS PELO ARTESÃO RAPOSO, QUE FABRICA INSTRUMENTOS MUSICAIS DE FOLIAS DE REIS EM SÃO FRANCISCO MG



































I ENCONTRO DE AGENTES DE LEITURA DO TERRITÓRIO DO MOSAICO SERTÃO VEREDAS-PERUAÇU

No dia de Folia e Foliões na Rua da Cultura em Januária realizamos com sucesso o I Encontro de Agentes de Leitura do Programa Arca das Letras - MDA.
Contamos com a presença das comunidades: Ribeirão de Areia, Rio dos Bois e Retiro Velho do município de Chapada Gaúcha; Distrito São Pedro das Tabocas do municipio de Pedra de Maria das Cruzes e Conego Marinho - Estes municípios são pertencentes ao Mosaico Sertão Veredas- Peruaçu.
A programação do dia 18 de setembro ficou por conta da RedeCCom na realização do registro audiovisual e na dinâmica de auto apresentação.
Durante a manhã a Roda de Prosa ferveu com os depoimentos dos agentes veteranos do programa e com o entusiasmo dos novos agentes que embarcam neste ano com a missão de levar leitura e arte para suas comunidades rurais.
A lição tirada deste encontro ficou registrada com a fala de D.Valdivia " Precisamos de mais iniciativas destas para seguir o trabalho, sozinhos é muito difícil".

Roda de Prosa com os agentes de leitura
Apresentação do kit encaminhado pelo MDA - Articulação Cultural

Relatos e experiências pela agente de Pedras de Maria da Cruz - D. Valdivia
Dinâmica de auto apresentação com a RedeCCOM - Agente José Wilson - Comunidade Ribeirão de Areia-Chapada Gaúcha
Agente de Leitura da comunidade Rio dos Bois pela primeira vez em contato com a camera

Este evento contou com a colaboração do Ministério do Desenvolvimento Agrário através da Coordenação e Articulação Cultural, Prefeitura Municipal de Chapada Gaúcha, Instituto Rosa e Sertão e RedeCCOM.

Apoio: Centro de Artesanato de Januária e Família Medeiros Wombral

Oficinas Comunitárias RedeCCom/Outro Olhar/TV Brasil com a Cáritas Diocesana de Paracatu em Unai MG





Vivência em Produção para TV com a Equipe de Produção OUTRO OLHAR/TV Brasil Empresa Brasil de Comunicação, dentro da programação das Oficinas Comunitárias de Produção Audiovisual da Memória Popular Brasileira – Unai - MG.
Data: 04 a 07 de Abril de 2013.
Oficinas Comunitárias de Produção Audiovisual é um processo de ensino aprendizagem apoiado na utilização dos meios tecnológicos de produção videográfica, que teve sua metodologia fundamentada na prática pela Escola de Expressão e Comunicação Comunitária, operando-se em um passo a passo que reproduz a estrutura de uma produção audiovisual, despertando os agentes participantes para visões próprias no trato da informação e possibilitando-lhes a realização de documentos praticando todas as fases que envolvem a confecção de um produto pela linguagem audiovisual.

A proposta de realização das Oficinas Comunitárias de Produção Audiovisual da Memória Popular Brasileira junto ao programa ATES/Cáritas – Núcleo Operacional Unaí MG, com a parceria Outro Olhar/TV Brasil, Cáritas Diocesana de Paracatu, Programa Arca das Letras/MDA, visa formatar o projeto da Agência Escola de Expressão e Comunicação Comunitária, em convergência com metodologias de inclusão digital, ações culturais e comunitárias desenvolvidas no município de Unaí - MG.
Desenvolver atividades de produção audiovisual para abordagens de temas relacionados à Memória Popular Brasileira no contexto da realidade social, cultural e ambiental do município de Unaí – MG


Identificar e treinar potencialidades individuais e coletivas para a prática da linguagem audiovisual e o desenvolvimento dos temas propostos pelas diversas fases de uma produção em vídeo.
Produzir a Primeira Mostra do Audiovisual Comunitário de Unaí - MG como prática de aprendizagem das Oficinas.
Estruturar a Agência Escola de Expressão e Comunicação Comunitária junto ao Núcleo Operacional da Cáritas Unaí - MG, com editoria permanente, articulando indivíduos e entidades na Rede Comunitária de Comunicação para a realização e veiculação de produtos pela TV Brasil, dentro do projeto Outro Olhar, além de Canais Comunitários, TVs Públicas Regionais e postagem nas Redes Sociais.

Temas:


1. Unaí – Cáritas Unaí, Agricultura Familiar, a Mulher e a Juventude no Campo

2. Unaí - Ação Cultural no Campo, Programa Arca das Letras, Diversidade cultural, Memória Popular, patrimônio imaterial, Quilombolas.

3. Unaí – Turismo, gastronomia


4. Unaí – Patrimônio Ambiental – Os problemas do Agronegócio


5. Unaí – Capital da Bicicleta


6. Unaí – Sustentabilidade, soluções, oportunidades

Programação:

Dia 04 – Abertura da Oficina
Apresentação da Proposta de Jornalismo Participativo com a Equipe de Produção OUTRO OLHAR/TV Brasil Empresa Brasil de Comunicação. 

Dia 05 - Produção dos temas. Edição.  
- Pouso da Folia do Divino Espírito Santo - Casa do Seu Florencio
Associação dos Pequenos Produtores Rurais do Projeto de Assentamento Papamel

Dia 06
Com a presença de representante do MDA
9 horas – Núcleo Operacional Cáritas Unaí MG
 - Apresentação dos vídeos realizados sobre os temas
1. Unaí – Cáritas Unaí, Agricultura Familiar, a Mulher e a Juventude no Campo
2. Unaí - Ação Cultural no Campo, Programa Arca das Letras, Diversidade cultural, Memória Popular, Patrimônio imaterial, Quilombolas.
- Fala de Representante do MDA/SRA sobre Ação Cultural no campo.

14 Horas
Visita Arca das Letras Casa de Concessa, dinamizadora Cultural – Agente Arca das Letras – Revitalização da Arca das Letras da Comunidade - Paracatu MG 

Domingo
Edição - Finalização 

BOI DE REIS DE SÃO FRANCISCO MG


Fotos: Antonio Raposo
          Guilherme Souza
Produção: CULTUARTE
BOI-DE-REIS “1”:
em TIPOLOGIA DOS REISADOS BRASILEIROS: Estudo Preliminar
Ulisses Passarelli

- Sinonímia: Boi-moreno.
- Distribuição: vale do Alto-Médio Rio São Francisco, em Minas Gerais, das cidades de Pirapora a Manga.
- Personagens: Tamanduá, Boi, Vaqueiro(s)-(Pai Francisco), Catirinas ou Catitas, Mulinha (de Ouro), Onça. Em 2000 foi registrado um Dragão, num dos grupos da cidade de São Francisco.
- Características: as mesmas de outros Bumbas em geral. Instrumental de percussão: surdo, tarol, bumbo. Sai às ruas de 1º a 6 de janeiro. Talvez a maior peculiaridade seja o personagem Tamanduá, lembrando o mamífero típico daquela região do cerrado. Apresenta-se envolto numa carocha, espécie de capa, feita de palha de buriti (palmeira comum na região), que os sertanejos usavam para proteger-se da chuva. O Tamanduá dança querendo abraçar as pessoas - alusão ao mecanismo de defesa deste mimercofagídeo.
- Observações: em São Francisco estão se formando muitos grupos infantis. Há dois de adultos, que guardam rivalidades entre si. São herdeiros de um grupo único e afamado que lá havia. Foi registrado um grupo com uma dupla de Bois dançando.
- Bibliografia:
DINIZ, Domingos. As Manifestações Folclóricas no Alto Médio São Francisco. Simpósio sobre o Folclore do  São Francisco / XXVI Encontro Cultural de Laranjeiras (SE), 05 jan. 2001.
MELO, João Naves

BOI-DE-REIS EM SÃO FRANCISCO

"Todo mundo me dizia/ que este boi não saía/ meu boi está na rua/ com prazer e alegria/ saiu, saiu/ saiu daqui agora,/ saiu meu boi moreno/ neste instante, nesta hora".

A alegria invade a rua, despontando com toda volúpia comanda pelas caixas com repique de forte ritmo e o vozerio se levantando aos ares – uns cantando, outros aplaudindo e dezenas de crianças arreliando. É Natal. Os grupos esperam o dia 1º do ano, seguindo a tradição da jornada dos Três Reis Magos, para começar suas andanças, cruzando com os ternos dos foliões de Reis.
Tempos passados o Boi-de-Reis, do jeito da cidade, era mais modesto, menos espalhafatoso e acompanhado por um séqüito quase reduzido aos próprios participantes que levantavam com as precatas a poeira das ruelas da cidade – mais bucólico e romântico, pois se ouvia as caixas, então de cedro ou tamboril, com couro de veado, acompanhadas de violões e violas. A chamada do boi que guardava uma certa distância da casa onde ele era "comprado" já valia o espetáculo. O coral, geralmente de mocinhas e crianças dos bairros pobres da cidade anunciava: "Todo mundo me dizia que este boi não saia..." A letra era uma resposta orgulhosa a quem ousava desafiar que o boi não sairia. Depois da chamada, quando o boi chegava saracoteando e se postava mansamente à frente da casa, uma voz apaixonada ganhava os ares, parecia arrancada do fundo da alma gemendo o primeiro verso:

"Levanta, boi, vem comê capim/ ôi! dona da Casa, tenha dó de mim. Segunda-feira, sábado, domingo choveu, na porta do seu Domingos, foi que meu boi morreu!"

Explodia o coral:


"Ei boi! Levanta meu boi!. Ei! boi, abre a roda meu boi!. Ei boi, arremete o vaqueiro! Ei boi! abra a roda meu boi!"...

e boi ia obedecendo as ordens numa belíssima coreografia, com a chita colorida (o seu couro) se inflando como balão ao sopro do vento nos seus volteios frenéticos, sacudindo como se acometido de violento sezão – avançava no rumo da assistência e se estancava com os chifres em cima do peito da menina espantada; rodopiava e voltava para o meio do terreiro e, depois, arremetia-se para o outro lado da roda, rodando, rodando, até receber a ordem do sossego:

"Amaia meu boi! Amaia, meu boi! Amaia, meu boi!"

era para ele, mansamente, arrear as pernas e descansar um pouco (folga merecida e necessária para o dançarino que, do lado de dentro erguia a pesada armação de varas revestida de panos coloridos e couro, fazendo com que ela tremesse toda, sacudisse violentamente e, ainda exibisse uma terrível coreografia de rodopiar e investir contra vaqueiros e assistentes). Os vaqueiros e as catirinas, na folga, conversavam com os tocadores, outros brincavam com o público, enquanto uma equipe cuidava de reanimar o boi aplicando-lhe injeções e ministrando-lhe doses imensas de elixir. O coral retornava depois do descanso, precedido da mesma voz apaixonada chamando o boi para a lida e tudo se reiniciava até que fosse determinado ao boi:

"Vai saindo, meu boi! Vai saindo, meu boi"

e ele deixava a praça, sacudindo-se todo, para desaparecer na escuridão. Os repiques das caixas redobravam e ficavam mais frenéticos entrando na cadência do "Carneiro", e ecoavam as vozes:

"Olê-lê-lê, Carneiro dê! Olá-lá-lá, Carneiro dá! Quem quisé carneiro manso, manda o vaquero amansá",


e a praça era invadida pelas catirinas que com os vaqueiros repetiam as amarradas dos carneiros no ritmo das caixas e da música. Dançavam e dançavam até serem dispersos pela invasão inesperada do "Bicho Tamanduá" –

"Ei que bicho é aquele que vem acolá? É o bicho Tamanduá”!

E o bicho Tamanduá com sua roupagem de palha, da cabeça aos pés – imitando capa de carocha, vinha rolando no chão, agarrando e arrastando vaqueiros ou catirinas. Era uma dança muito dinâmica, agitada pelas batidas fortes e aceleradas das caixas com o reforço do coral numa cadência onomatopéica:

"que bicho é aquele que vem acolá? É o bicho tamanduá!”.

Estava o bicho a rolar pelo chão com vaqueiros e catirinas, quando adentrava na praça, dançando com graça e leveza, tão mimosa e encantada, a "Mulinha de Ouro" –

"Mulinha de ouro, é ouro só”!...

Depois do seu rápido e belo bailado ela deixava espavorida a praça que era tomada pela onça:

"Oiá a onça no pau! Cachorro nela!. Oiá a onça no pau! Cachorro nela”!...

Começava renhida luta entre a onça e os vaqueiros. Cessavam, enfim, as vozes e as caixas. Os agradecimentos. Meninos curiosos queriam proximidades com o boi e a mulinha – de preferência –, mas se encolhiam quando aproximavam a onça e o bicho tamanduá... O silêncio era de novo quebrado: as caixas voltavam ao repique e o coral retomava o refrão desafiador - "todo mundo me dizia...." – e, se arrastando, o grupo buscava outra praça, deixando saudades.
No dia 6 de janeiro fazia-se uma grande festa na casa do Imperador. Era a matança do boi. Muita dança e muito gole. Noite toda de alegria. Depois, só no começo do outro ano...
Não muito tempo era assim. Hoje, ocorreram muitas mudanças, são muitos grupos. Felizmente a tradição mantém-se firme e no gosto popular, principalmente das crianças (têm, às dezenas, os boizinhos de lata que zoam meses seguidos pelas ruas de seus bairros). Dois grandes ternos fazem a festa no dias atuais: o do Messias, mais tradicional e formoso, que substituiu o de Adão, o mais famoso deles por muitos anos, em São Francisco e outro, o do bairro Sagrada Família. Conquanto guardem muito da coreografia e da música tradicional, eles processaram muitas mudanças no folguedo. O que importa é que, entra ano e sai ano, desponta o boi nas ruas, invade a cidade, ocupa as suas praças e arrasta multidões noite à dentro, todos repetindo com imensa alegria: "Todo mundo me dizia que meu boi não sai..." e o teimoso todo ano sai com prazer e alegria.


"...O boi-de-reis de São Francisco guarda muita semelhança com o bumba-meu-boi do Maranhão, conforme descrição da Câmara Cascudo. A diferença existe é quanto a ocorrência. Enquanto em São Francisco se dá no solstício de Verão, mais propriamente no mês de janeiro, no Maranhão ele ocorre de maio a outubro, com o clímax em junho. No Maranhão, segundo registra a Comissão Maranhense de Folclore, o bumba-meu-boi “é um brinquedo de fé e devoção, uma forma de oração. Ainda hoje o boi é concebido e dançado e cantado em homenagem a santos católicos, mas também a entidades espirituais cultuados nos terreiros de tambor de mina, umbanda, pajelança, entre outros. O catolicismo é uma das concepções religiosas mais presentes na brincadeira. Essa ligação é estabelecida a partir da relação dos boieiros com os santos do período junino e, especialmente, com São João.”As personagens do boi-de-reis de São Francisco origem, também, no bumba-meu-boi do Maranhão que refletem a multiplicidade de símbolos ritos e mitos provenientes da ligação estreita entre o universo das religiões afro-maranhense.
O boi-de-reis de São Francisco não guarda nenhum liame com a religiosidade. Não passa de uma recreação, folguedo folclórico. As músicas entoadas não fazem nenhuma alusão a divindades ou entidades, mas tão-somente contam a história do boi e narram as interferências de várias personagens, como numa ópera bufa."

http://joaonavesdemello.blogspot.com.br/2012/01/boi-de-reis-em-sao-francisco.html

















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Januária e Manga em Minas Gerais, celebram a Cultura Popular com Folias e Foliões


Rua da Cultura com folia do Ponto de Cultura Seu Duchim


A Rua da Cultura anunciada aqui e realizada pelo Centro de Artesanato de Januária foi um SUCESSO!
O Ponto de Cultura Seu Duchim: Espaço Geral de Folias e Ponto de Cultura Centro de Artesanato de Januária firmaram mais uma vez a cooperação cultural entre entidades culturais do território do Mosaico Sertão Veredas- Peruaçu durante a realização da Rua de Cultura em Januária-MG.
Com atividades de contação de história, mostra de artesanato, música e Folia de Reis o evento cativou quem estava presente.
Realizamos oficina com músicas ribeirinhas e cantigas. Numa mistura de contação de história e roda trouxemos para dentro da brincadeiras os foliões do projeto Folias e Foliões sob a coordenação de Raposo - Cidade de São Francisco - para tocar o lundu. Ao som de " Zabelê", " Caninha Verde" e "Pisei na barata" o caixeiro do terno e os foliões pularam e tocaram animando a garotada!
O Terno de Folia honrou o verso: " Segura a caixa caixeiro, não deixa a caixa parar a caixa custou dinheiro e dinheiro custou ganhar"
Para cativar você leitor do Blog vai uma mostra do que aconteceu na tarde de sábado com vista para Rio São Francisco e cobertos pelo céu azul de Januária.
Registro fotográfico de Natália Rust

"O fecha a roda tindolelê"
"O abre a roda tindolalá"
As gêmeas do Rosa e Sertão - Diana no sax e Daiana no violão
Damiana soltando a voz



Camila na organização do Cortejo
Agora nossa fotográfa oficial Natalia Rust
Folia e Foliões com a nova geração
Ouvindo histórias!

Realização da Rua de Cultura: Centro de Artesanato Januária - Associação Amigos da Cultura
RedeCCom Rede Comunitária de Comunicação
18 de setembro de 2010

Oiê Cadê o Manzuá? Ainda está lá.

Oiê Cadê o Manzuá? Ainda está lá.
por Damiana Campos - Mestrando em Ciências Sociais - CPDA/UFRRJ - do Instituto Rosa e Sertão
Dona Lorença - Mudou-se da comunidade devido problemas de saúde, mas chora ao lembrar de sua morada.Esta foto acima foi tirada pelas comemorações na comunidade do ´Prêmio Culturas Populares/MinC - 2010
Grupo Manzuá na apresentação em São Jorge/GO.
Cadê o Manzuá? Ainda está lá.

Foi assim que chamei a atenção no Grupo de Trabalho "Comunicação" do IV Encontro Nacional de Comunidades Quilombolas. Este grupo teve por objetivo elaborar encaminhamentos na temática Comunicação para que as comunidades quilombolas tenham meios de se comunicarem e de receber notícias sobre o que está acontencendo nos movimentos sociais e nas políticas públicas.

Como já apresentado neste blog a Comunidade Quilombola Retiro dos Bois fica a 60 km de distância do município de Chapada Gaúcha/MG e 250 km da sua cidade Januária/MG - esta divisão é territorial. Há uma luta abafada a mais de 10 anos pelo reconhecimento deste território como um chão povoado por GENTE e não apenas por terras soltas. Esta busca incessante pela passagem da área das comunidades de Patos, Angical e comunidade quilombola Retiro dos Bois para administração do município de Chapada Gaúcha já deixou muita gente doente ou morrer sem ver uma solução.

O fato é: não há uma política pública e assistência as comunidades que estão mais 250 km de sua cidade. Como fazer esta logísitca de: Assitencia médica, Agentes de Saúde Rural pelo menos 1 vez por semana? Merenda escolar de qualidade pelo sistema do PAA? Professores capacitados e bem remunerados dando aula em um ambiente satifatório? Alunos com uma infraestrutura que garanta a sua permanência na escola e uma boa aula que abram os olhos para um mundo melhor lá? Como dizer a estas pessoas que estão num paraíso, onde o Rio Carinhanha é o seu maior tesouro, sendo que são humilhados e sem chão quando pedem assistência básica e de direito garantido pela constituição? Como garantir que grandes fazendeiros não comprem estas terras por preços abaixo do valor de mercado, sendo que o valor que deveriam ter era apenas de serem reconhecidos como GENTE? E agora?

Este fato é dado por muitos moradores de Chapada e também por aqueles que são “parentes”. Todos são sabedores da interferência nas relações sociais não apenas enquanto o deslocamento como forma física, mas também psíquicas e morais.

Mas é percebido também na fala de alguns moradores da região que o pertencimento a esta terra destinada e sua identidade territorial depende não somente de suas mãos ou vozes:

"Se é tempo de política muitos são Chapada Gaúcha, se é tempo de doença são Januária, mas não dá tempo de chegar até lá e precisam ser Chapada, mas agora tão dizendo que a gente não pode mais ser de Chapada por causa do cartão SUS. Este trem não tá certo não, como é que eu vou lá para Januária se eu tô doente minha irmã?". (moradora da comunidade Retiro dos Bois)

Outro caso de um morador de 60 anos sobre a dificuldade de logística territorial:

"Eu tô pra tirar uma chapra e não posso mais, por que disseram que só atende emergência, agora eu tenho que morrer pra me atender". (morador da comunidade quilombola Retiro dos Bois)

Esta situação é diária no Posto Médico de Chapada Gaúcha que ainda faz muito para com a comunidade, mas devido à burocracia não podem mais realizar os encaminhamentos que já faziam há mais de 10 anos.

Procurando funcionários do Centro Médico fomos informados que devido novo Sistema, este informatizado e que libera os encaminhamentos para exames e consultas fora do município, todos os cadastrados pelo município de Januária tem que encaminhar seus exames para serem feitos no próprio município que faz parte e que apenas casos emergenciais poderiam ser realizados lá.

Foi ainda apresentado o acordo com a Prefeitura de Januária, onde incluí apenas UM paciente mês para atendimento e exames. Isso sim é um desagravo aos direitos constitucionais.

Os moradores pedem SOCORRO!!!

Não podemos deixar isso acontecer com uma comunidade que é referencia cultural e que encanta a todos com sua alegria e seus tambores. As violas estão de luto mais uma vez.

Há um quase um ano a comunidade aguarda retorno sobre a morte de um dos moradores da comunidade - brutalmente morto com 8 tiros por um sargento da PM a paisana numa festa da cidade - este caso também sem notícias ou mesmo soluções.

Estas ações e acontecimentos somente levam a auto-estima a nível zero, mas mesmo assim eles ainda continuam a cantar:

Oiê cadê o Manzuá?

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ARCA DAS LETRAS Uma Luz da Cultura Para Todos no Campo

                  Uma idéia prática e eficiente tem o componente fundamental da simplicidade. Foi essa característica básica do Programa Arca das Letras que permitiu aos colaboradores do Projeto Rede Comunitária desenvolver Oficinas Vivenciais de Produção Audiovisual com seus Agentes de Leitura, gerando registros de manifestações artísticas e culturais em diversas comunidades visitadas, no Vale do São Francisco em Minas Gerais e na região de Criciuma, Santa Catarina, onde quer que se avistasse uma placa com os dizeres "Arca das Letras - Biblioteca Rural." 
                   Estas arcas visitadas são uma pequena parcela das mais de 8.000 bibliotecas rurais implantadas pelo Ministério de Desenvolvimento Agrário desde 2003 em todo o território nacional, número que vem crescendo ao ritmo de 3 bibliotecas por dia, instaladas em assentamentos de reforma agrária, comunidades de agricultura familiar, de remanescentes de quilombos, indígenas, ribeirinhas e em colonias de pescadores."O Arca das Letras é um programa destinado prioritariamente às populações do campo, sempre esquecida pelas políticas públicas de acesso à cultura," reafirma como profissão de fé a coordenadora de Ação Cultural, Maria Dione, da Secretaria de Reordenamento Agrário do MDA.  Formada na lida dos programas de inclusão social, Dione alimenta as bases do programa na estrutura ministerial, exercitando a sua experiência no envolvimento de iniciativas comunitárias com  ações governamentais e não governamentais na  implantação das bibliotecas.
                     Desde então a articulação de ações convergentes com outros  programas do governo e da sociedade civil tem sido um dos pilares que sustentam a dinâmica de construção coletiva do Arca das Letras. Esta articulação de forças parceiras foi também a base para a realização das Oficinas  Vivenciais de Produção Audiovisual pela Rede Comunitária, produzidas com o suporte de Pontos de Cultura."Está no DNA dos pontos funcionar como como agente articulador de várias iniciativas," diz Ellen Parrela, coordenadora do Ponto de Cultura CinePoesia, da TV Geraes de Montes Claros, MG. De vocação inequívoca para o registro e veiculação da cultura regional, o CinePoesia, com seu canal aberto de teleradiodifusão, transformou-se na vitrine para os produtos gerados nas oficinas."Registrar e dar evidência pela TV, vai mostrar de fato o que existe de mais autentico da cultura tradicional do norte de Minas," completa Antônio Raposo, produtor executivo da Cultuarte, entidade que trabalha com a divulgação da cultura regional em São Francisco, cidade às margens do rio do mesmo nome, no norte de Minas Gerais. Foi o próprio Rio São Francisco que descreveu um  itinerário natural para a série de ações desencadeadas por essa rede de parcerias para o registro audiovisual de inúmeras expressões culturais locais. Cabe ressaltar, neste contexto, a importância do projeto Folias, Foliões e seus instrumentos musicais, desenvolvido pela Cultuarte por um circuito de onze cidades mineiras. Patrocinado pela Natura, sua itinerância leva pelo estado um comboio de exposições, oficinas e apresentações do universo das Folias de Reis, temática intrinsecamente ligada às manifestações da cultura popular de origem rural.
                 Com esse comboio foram alcançadas comunidades ribeirinhas do São Francisco, as chamadas "cidades barranqueiras", onde o Arca das Letras revelou-se uma senha para o estabelecimento de parcerias com gestores municipais, artistas e grupos locais de cultura popular. Em Januária, MG, antigo porto do rio, o evento  Rua da Cultura foi um estuário de ações integradas, ancorado pelo Ponto de Cultura Centro do Artesanato. Foram dois dias de oficinas, exposições, rodas de leitura e apresentações do rico folclore regional, como a Dança de São Gonçalo, Rei dos Cacetes/Marujada, Pastorinhas de Maria da Cruz, entre outros. Na programação, um encontro de Agentes de Leitura do Norte/Noroeste mineiro foi articulado pelo Ponto de Cultura Seu Duchin, do Instituto Rosa e Sertão, sediado no município de Chapada Gaúcha, a 136 Km de Januária. Pelas mãos de Damiana Campos, coordenadora do Seu Duchin, jovens agentes de leitura viajaram por longos trechos de estradas de terra para participar da Rua da Cultura,  onde puderam falar de suas experiências como embaixadores da leitura no mundo rural, reconhecendo-se um ao outro como representantes orgulhosos de suas comunidades que voltariam para casa com um reforço especial para suas arcas: o kit  de gibis e álbuns de figurinhas que funcionam como isca para a pescaria em rede de novos leitores.
                 Cantigas de roda de Dona Dazinha no município de Manga e a Igreja de Nossa Senhora da Conceição da cidade de Mathias Cardoso, uma das mais antigas construções de Minas, foram mais algumas das preciosidades barranqueiras  que as câmeras oficineiras registraram de um lado e de outro do São Francisco, acompanhando o cortejo de folias e foliões da Cultuarte. Em novo movimento, embrenharam sertão adentro para alcançar as divisas em que o Rio Carinhanha separa o território mineiro da Bahia. Uma viagem de páginas a folhear leituras visuais de recônditos cenários magistralmente descritos por Guimarães Rosa no Clássico Grande Sertão:Veredas, que não por acaso funcionou como bíblia e guia a conduzir os viajantes do Arca das Letras, da cidade de Chapada Gaúcha até a Comunidade do Retiro dos Bois, para cumprir a missão de entregar mais três bibliotecas.
                  Atolando em estradas  de areia no meio do cerrado, banhado-se em veredas de buritis tal como Riobaldos Diadorins, a comitiva alcançou um pedaço de Brasil onde nem o Luz Para Todos chegou. A solenidade de entrega das arcas que iniciou pela tardinha  adentrou a noite, proporcionando uma bela cena protagonizada pelas capacitadoras Tatiane Sousa e Anetéia, que realizaram, à luz de velas, o treinamento dos agentes de leitura. Tatiane fez questão de registrar o simbolismo daquele momento único: a luz do conhecimento de uma  arca  repleta de livros chegando na frente da luz elétrica, iluminando novas fronteiras do saber para aquela comunidade. Tão expressivo como este momento, foi ver Tatiane e Anetéia totalmente acolhidas pela alegria da gente do Retiro dos Bois na roda da Dança do Manzuá, curiosa expressão da comunidade em que só participam mulheres, que no ritmado de tambores, dançam e cantam versos de repente, equilibrando uma trouxa de roupas na cabeça, à moda de lavadeiras ancestrais.
                   A festa durou a noite toda e ganhou o dia. E assim, soletrados pelo sertão roseano, seguiram todos da comitiva pra ver Das Neves sorrir do outro lado do Velho Chico.

UM BURITI DO MEIO NO CAMINHO

                   E Das Neves sorriu, algo que pouco faz, alegando a falta de alguns dentes para iluminar largos sorrisos. Mas os lábios a traíram quando segurou nas mãos os primeiros livros e o estandarte da Arca das Letras. Emocionada, agradeceu em nome da sua comunidade de remanescentes de quilombos, pequenos produtores de tradição oleira, organizados em associação na região do Buriti do Meio, município de São Francisco. A força da gente do Buriti do Meio está impressa em potes, vasos, travessas e botijas, rico artesanato em barro daquela região.
                    
RedeCCom ECCom


REDE COMUNITÁRIA DE COMUNICAÇÃO - ESCOLA DE COMUNICAÇÃO COMUNITÁRIA

VIVÊNCIA EM PRODUÇÃO DE TV ARCA DAS LETRAS/PONTOS DE CULTURA

VÍDEO

ÁUDIO

Planos Gerais que identificam Montes Claros MG



Imagem de equipe com câmera e microfone gravando no Espigão de Cima





Cenas de Câmeras e microfones em ação







Imagens do Prédio da TV Geraes

Cenas da Reunião



Pautas impressas

Cenas da Comunidade

Placa da Arca







Sonora João Figueiredo



Cenas das Apresentações







Sonoras de entrevistados elogiando o evento

Cenas na ilha de edição





Guilherme na bancada do estúdio.

Marca da Arca como cenário











Clip de Imagens

Créditos finais.

Música de viola

Cai em BG

Loc.: Montes Claros, Minas Gerais, Outubro de 2010. Agentes de Leitura do Programa de Bibliotecas Rurais Arca das Letras participam de uma Oficina de Vivência em Produção de Televisão com Agentes de Pontos de Cultura do Norte Mineiro.

A Oficina foi um exercício prático que proporcionou a integração destes dois programas do governo federal em uma rede de produção audiovisual para registro e divulgação de manifestações da cultura popular.

O primeiro encontro foi uma reunião de pauta realizada na sede da TV Geraes em Montes Claros, onde é sediado também o Ponto de Cultura CinePoesia.

Na reunião de pauta foi gerado o roteiro de gravações na Comunidade Rural Espigão de Cima, onde está implantada uma unidade da Arca das Letras.

João Figueiredo, presidente da Associação de Moradores do Espigão de Cima é o Agente de Leitura responsável pela Arca, que está instalada em sua casa à disposição da comunidade.

Fala de João sobre a Arca e sobre o leitor Guilherme.

Nossas câmeras puderam registrar o grande interesse de crianças, jovens e adultos pela leitura e pela cultura na Comunidade de Espigão de Cima. Capoeira, Lundu, Folia de Reis, Cantores e Tocadores de Violas desfilaram no palco da comunidade, um cardápio variado que agradou a todos.

Seguindo a linha de produção de um documento para a televisão, a oficina continuou nas ilhas de edição da TV Geraes, com a decupagem das fitas gravadas e a edição de imagens.

Terminada a edição, chegou a hora da nossa produção ir ao ar. Aqui da bancada no estúdio onde entra ao vivo o Telejornal da TV Geraes, a apresentadora chama as matérias editadas. E é daqui que vamos chamar agora o clip de imagens de nossa oficina que editamos com o som dos artistas locais, registrando este feliz encontro Arca das Letras/Pontos de Cultura do Norte Mineiro, celebrando toda a grandeza da nossa cultura popular.





Maria de Fátima Maia

Coordenadora Ponto de Cultura Catopes

Montes Claros MG

"A cultura montesclarense é uma cultura básicamente rural. Todas as riquezas da cidade, sejam elas culturais ou financeiras, são provenientes da zona rural. O advento da industrialização da cidade é algo muito recente, se você for contar a história. Quando eu vejo o Ponto de Cultura voltando o olhar para a zona rural, eu acho promissor, porque não existe um povo que tenha identidade se ele não identificar com aquilo da origem e como essa origem é zona rural, eu acho interessantíssimo, até para que o pessoal que hoje vive na periferia...O Ponto de Cultura Catopes é da periferia da cidade. Se ele não consegue o diálogo com o centro da cidade de maneira mais humana, é com a zona rural que ele vai conseguir este diálogo"



Rute Moreira – Carbonita – Vale do Jequitinhonha – Agente Cultural – Assistente Social

"Aliar a questão da leitura com a cultura. Um ponto onde tem os livros, ali está a cultura, que está em todos...E ela pode e deve ser vivenciada através das cantigas, do modo de cozinhar, do seu dialeto, de todas as formas...cantigas de roda, modas de viola, dança das fitas, grupos de caboclo..."



Ellen Parrela – Ponto de Cultura CinePoesia – TV Geraes – Montes Claros - MG

"O que aconteceu hoje foi uma materialização....Está no DNA dos pontos funcionar como agente articulador de várias iniciativas.Nós da TV Geraes, canal aberto de radiodifusão...Estou celebrando muito fortemente esta iniciativa....A criação da produtora regional....Muita Esperança....O registro passa a ser conteúdo da TV Geraes, canal de difusão da produção destes pontos.Uma rede, reforçar a identidade cultural dessa região. Nós já estamos com um primeiro produto que é a criação da produtora regional





Paula Gamper – Rede de Pontos de Cultura de Santa Catarina

Até uns 6 meses atrás eu conhecia o Programa Arca das Letras, apenas por releases ou clipping de noticias. Sabia do que se tratava e admirava a maneira como era conduzida junto as comunidades. Faço parte da rede de Pontos de Cultura de Santa Catarina, em outubro passado, estava eu em Brasilia quando surgiu um convite por parte da coordenadora de Ação Cultural, Cleide Cristina Soares, da Secretaria de Reordenamento Agrário do MDA, Coordenadora do Programa Arca das Letras para participar de uma intervenção da Arca das Letras no Estado de MG.



Tamanha foi minha emoção pelo convite e pela oportunidade de estar frente a frente com um dos projetos que considero o mais bonito e importante do Governo Lula, que é o de realmente levar a cultura, conhecimento e a inclusão cultural sem distinção de raça, cor, credo ou condição social.

Minha primeira experiência foi em Paracatu/MG, cidade linda, com casas antigas e preservadas, observo os portais, as janelas, os ladrinhos, os bancos das praças, os postes, os paralelepípedos. Tudo passa muito rápido a minha frente, no mesmo instante observo a alegria e a correria das pessoas simples para organizaram a grande festa da noite, banderolas, bambus, estampas de xita, bambus, cerâmicas, se misturam ao som dos grupos de Folia de Reis que ensaiam para a apresentação perfeita mais a noite. Ao lado luzes iluminam as barracas e no meio delas, em destaque e sendo observada por olhos brilhantes e curiosos, a ARCA DAS LETRAS, que para os pequeninos presentes parecia mais um “BAU DE TESOUROS”.



As crianças me olham por um instante, vêem que estou usando uma camiseta das Arca das Letras, e uma delas me pergunta: Tia, a gente pode ver? E eu com um sorriso, respondo que sim. As mãos se misturam procurando um livro, uma historia em quadrinhos, naquele instante buscam sonhos, alimentam a alma.... A noite foi só de alegria, crianças lendo a luz das lampadinhas, o sapateado do grupo de dança de reis, a batida das palmas, uma combinação perfeita de cultura e saber popular. No dia seguinte seguimos de carro para Unaí, outro cantinho de MG, conheci um pouco da cidade, jantamos com a comunidade, assisti a apresentação do Grupo de Folias junto com a apresentação do Quilombo do Meio, conheci das Neves, que me encantou. Como convidada pelo MDA fiz as honras e fui entregar a Arca das Letras ao Ponto de Cultura local, o Coordenador.... abraçou a arca como um verdadeiro tesouro e se comprometeu a leva-la a comunidade rural, fazer oficinas de contação de histórias, e ainda produzir um documentário, tamanha a sua satisfação com o presente.



Agora a articulação da Arca com os Pontos de Cultura esta se concretizando e seguimos rumo ao Sul, destino escolhido? Criciuma em Santa Catarina, onde contamos com o apoio institucional da colega Ana Paula do Instituto Juazeiro, e a hospitalidade do Coordenador do Ponto de Cultura Multiplicando Talentos, o Eduardo Mitiolli. Fomos para o clima frio do Sul, dia cinza, chuvoso, George seguiu na frente para a esperada cidade, eu cheguei no dia seguinte embaixo de chuva, com horas de atraso por se perder na estrada,mas estávamos la... visitando o Ponto de Cultura Multiplicando Talentos, e porque não dizer o ponto de cultura mais atuante e competente de SC? Eles tem até um CINE 3D o único do Brasil.



Convidamos os pontos de cultura de SC para participarem da Oficina de TV em parceria com a Criarte, e RedeCCom, a chuva afastou um pouco os participantes, pelas cidades serem distantes, mas os presentes puderam aproveitar para conhecerem sobre comunicação, e a diferença que a Arca das Letras faz a vida das pessoas. Pudemos acompanhar de perto a ARCA numa comunidade pesqueira, retratar a vivencia e a experiência de um povo único dentro da sua cultura local, dentro da sua realidade. A arca me possibilitou viajar pelo meu eu, observar que cada um tem uma maneira especial de conduzir o projeto, seja no quilombo, seja na comunidade rural, comunidade indígena, e nas comunidades ribeirinhas, cada um tem um conto, um “causo”, um relato sobre a importância da Arca na comunidade. Pessoas adultas aprendendo a ler, escrevendo suas próprias historias e depoimentos, participando da comunidade como ser cultural, agente de leitura, formadores de opinião.



Acredito muito nesta parceria dos Pontos de Cultura com a Arca das Letras, cada ponto de cultura sendo responsável em levar a arca as comunidades rurais, indígenas, remanescente de quilombos e ribeirinhas. O ponto de cultura levando informação, oficinas de contaçao de historias e roteirização através dos livros de historia da Arca das Letras. Quero em meu próximo relato, contar estas experiências, quero rodar o Brasil de ponto a ponto, interagindo com os parceiros e arca das letras, construindo esta nova história e ajudando o Brasil a crescer cada vez mais. Com muita CULTURA!

Paula Gamper             

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